" Ser governado é... Ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legislado, regulamentado, parqueado, endoutrinado, predicado, controlado, calculado, apreciado, censurado, comandado, por seres que não têm nem o título, nem a ciência, nem a virtude (...). Ser governado é ser, a cada operação, a cada transação, a cada movimento, notado, registrado, recenseado, tarifado, selado, medido, cotado, avaliado, patenteado, licenciado, autorizado, rotulado, admoestado, impedido, reformado, reenviado, corrigido. É, sob o pretexto da utilidade pública e em nome do interesse geral, ser submetido à contribuição, utilizado, resgatado, explorado, monopolizado, extorquido, pressionado, mistificado, roubado; e depois, à menor resistência, à primeira palavra de queixa, reprimido, multado, vilipendiado, vexado, acossado, maltratado, espancado, desarmado, garroteado, aprisionado, fuzilado, metralhado, julgado, condenado, deportado, sacrificado, vendido, traído e, no máximo grau, jogado, ridicularizado, ultrajado, desonrado. Eis o governo, eis a justiça, eis a sua moral!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

CELIP convida: Anarquismo na Revolução Russa e Ucraniana 25/09 - às 14h




Palestra seguida da exibição do filme: Makhno, um camponês da Ucrânia.

A Revolução Russa, que fora realizada pelo conjunto da classe trabalhadora
contou com a participação ativa do anarquismo em seu interior. Estes
atuaram em defesa dos sovietes livres, entidades organizativas
constituídas pelos trabalhadores muito antes de 1917. Enquanto as estepes
russas ferviam, na Ucrânia um processo de insurreição social era realizado
pelos camponeses de toda a região.

Esmagados pela repressão bolchevique, os anarquistas russos e ucranianos
assistiram os sovietes transformarem-se de entidades autogeridas pelos
trabalhadores à simples correia de transmissão do Partido Bolchevique.

Ainda assim, as lições da Revolução Russa e Ucraniana foram fundamentais
para a compreensão das trajetórias e estratégias do anarquismo e do
conjunto da classe trabalhadora.

ONDE: Centro de Cultura Social. Rua Torres Homem 790 - Vila Isabel.
Próximo à Escola de Samba Vila Isabel e ao final do Boulevard 28 de Setembro.

# ÔNIBUS: 433, 432, 438, 232, 268, 638, etc.
# METRÔ: Comprar o bilhete de integração para Vila Isabel.
# TREM: Descer na estação maracanã e pegar um ônibus que desca a 28 de
Setembro.



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www.farj.org
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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

ENTREVISTA COM A FEDERAÇÃO ANARQUISTA GAÚCHA

PROTESTO NÃO É CRIME!
ENTREVISTA COM A FEDERAÇÃO ANARQUISTA GAÚCHA

O jornal Socialismo Libertário, periódico nacional do Fórum do Anarquismo
Organizado (FAO), conversou com um militante da Federação Anarquista
Gaúcha, FAG, neste momento em que se aproxima a data da audiência na qual
6 militantes da organização foram intimados. Será no dia 19 de julho e
contará com a presença da governadora Yeda Crusius em pessoa, fazendo a
sua denúncia contra a FAG.

Socialismo Libertário:Poderíamos fazer uma pequena retrospectiva dos fatos
que levaram vocês a terem a sede invadida pela polícia civil e seus
militantes intimados judicialmente?

Militante Faguista: Em 21 de agosto, durante uma sinistra operação de
guerra montada pela Brigada Militar no despejo da ocupação dos
trabalhadores do MST na fazenda Southall, no município de São Gabriel, foi
assassinado Elton Brum. O crime foi ato premeditado do Estado. O
companheiro Sem Terra foi alvejado pelas costas pela polícia com disparo
de calibre 12. Esse fato comoveu todo o movimento popular e sindical,
direitos humanos e grupos de foro internacional. Imediatamente se
organizaram caravanas solidárias para São Gabriel, a cidade onde se
consumou um golpe de morte que era anunciado pelas escalada de violência
do Estado contra o protesto e a pobreza. Em Porto Alegre no mesmo dia
levantamos com outros setores organizados da luta um ato de solidariedade
ao MST e de repúdio ao governo de Yeda Crusius e a Brigada Militar. Dessa
mobilização imediata resultou a decisão da FAG de levar pra rua uma
campanha de agitação denunciando o crime e responsabilizando os seus
mandantes, nesse caso o chefe das operações e o governo do Estado. Pois a
própria Yeda Crusius em pessoa fez uma queixa crime contra os militantes
da FAG por calúnia e difamação e abriu este processo judicial que se
arrasta até sabe-se lá quando.

SL:Como vocês definiriam a conjuntura para os movimentos populares no RS,
nos últimos anos?

MF: Em uma análise discutida e aprovada pelo Conselho Federal da
organização que recorria aos fatos repressivos e os esquemas corruptos que
sucediam a leitura que fizemos era de evidências de um Estado policial com
alto grau de truculência, dentro do regime democrático burguês, aos pobres
e os setores organizados da luta. Vivemos a combinação explosiva de um
governo corrupto até a medula, de uma oposição parlamentar rendida as
cláusulas neoliberais do empréstimo do Banco Mundial e uma pauta
repressiva implacável às manifestações da pobreza e do protesto social nas
ruas ou no campo. Essa conjuntura ainda teve a mediação de um discurso
reacionário que ganhou circulação pela mídia e pedia mão pesada contra as
“desordens” que vem de baixo. Nessa produção poderosa da comunicação
dominante ganhou palco e holofote o comandante da Brigada Militar Paulo
Roberto Mendes que foi batizado “capitão Nascimento dos Pampas”. Paralelo
ao fogo cruzado dos inquéritos, investigações e polêmicas que
convulsionavam a máquina do governo e também do ajuste fiscal que
desmontou com os serviços públicos e a política social, o comandante
Mendes era o símbolo da ação do Estado.

Em 2008 a luta de classes no estado do RGS passou por um momento
brutalmente repressivo enquanto o governo de Yeda Crusius se equilibrava
na corda bamba para passar impune a fraude com dinheiro público do
Departamento Estadual do Trânsito, a língua solta do vice-governador
Feijó, a morte mal explicada do representante do estado em Brasília, caixa
dois de campanha pra compra da mansão da governadora, etc... Como
dissemos, em 2008 a mão pesada desceu o cacete. Pra lembrar melhor. Em
janeiro o encontro estadual do MST em Sarandi foi cercado, paralisado e
invadido por um contingente absurdo da polícia constituindo numa grave
violação dos direitos democráticos. Em fevereiro uma manifestação do
Encontro Latino Americano de Organizações Populares (ELAOPA) em Porto
Alegre, durante conferência mundial das cidades teve que se defender da
agressão policial. Em Rosário do Sul, na jornada das mulheres camponesas
pelo 8 de março uma ocupação em terras da zona de fronteira que são
ilegalmente invadidas pela empresa sueco-finlandesa Stora Enzo terminou
reprimida selvagemente sem discriminação de crianças. Pela metade do ano
mais episódios. Uma batalha em frente a um supermercado da rede Wall Mart
em Porto Alegre deixou vários companheiros de mov. Sociais do campo e da
cidade feridos e um em estado grave. Em Passo Fundo na ocupação da Bunge
mais violência policial. Um piquete de grevistas do sindicato dos
bancários em Porto Alegre foi surrado covardemente. A marcha dos sem, que
todos os anos se realiza na capital do Rio Grande foi proibida de chegar
perto do palácio do governo e dispersada a balas de borracha e bombas
pelas forças repressivas.

Uma ação do Ministério Público estadual pediu a cabeça do MST, suspendeu
as escolas itinerantes, quis por fora da lei, proibir, amordaçar, a maior
força social dos oprimidos do país. A conjuntura tinha prenúncios
sinistros de morte, de perda de companheiro, dada a escalada repressiva
que investiu com força sobre a resistência popular. Nos bairros e vilas da
periferia, nas favelas, a prisão sobretudo da juventude negra e pobre foi
incorporada no aparelho como política de limpeza social. Foi assim que se
fez em 21de agosto de 2009 o assassinato do trabalhador sem terra Elton
Brum. Em meio a peleja histórica que faz o MST no coração do latifúndio,
na “terra dos generais” chamada São Gabriel.

Pois nos parece que desse padrão repressivo intenso que resistimos agora
nos sobrou a judicialização dos conflitos. É onde estamos. O governo Yeda
voltou a caça as bruxas no final de mandato contra os seus opositores.
Pelo menos três casos são emblemáticos desses ataques judiciais. O
protesto em frente a residência da governadora organizado por sindicatos e
partidos de esquerda; a campanha publicitária do fórum dos servidores
públicos, liderada pelo Cpers-Sindicato contra o governo; e a propaganda
da FAG denunciando os responsáveis pelo assassinato de Elton Brum. Todos
chamados ao Foro Central na 6° vara criminal para responder a queixas
crimes da governadora como réus.

SL: Por que, na opinião de vocês, o assassinato de Elton Brum não gerou
uma onda de protesto, como costuma ocorrer nestes casos, como por exemplo,
na Argentina (Dario Santillán e Maxiliano Kosteck) ou Grécia (Alexandrous
Grigoropoulos)?

MF: O assassinato estava inscrito dentro de uma conjuntura mais geral onde
atravessavam as lutas e mobilizações populares contra a dura política de
ajuste fiscal do governo. Temos nossa própria avaliação, nossas hipóteses
sobre isso. Estava formada no Rio Grande do Sul uma campanha que tinha
centro na luta política contra o governo, pelo Fora Yeda, que contava como
setor mais dinâmico das cidades o sindicato dos trabalhadores da educação.
O governo Yeda vinha colecionando escândalos e cambaleando no fogo cruzado
da crise política, com fraturas expostas na própria base. Uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) foi instalada na Assembleia Legislativa do
estado que deu cena ao PT e suas ambições eleitorais. O reformismo ganhou
protagonismo como intermediário político da luta que se ampliava nas ruas
e nos locais de trabalho do setor público. Com o tempo o parlamento e a
comissão de inquérito passou a ganhar lugar mais decisivo, deslocou a ação
direta popular. Esse é o primeiro elemento.

O segundo é o prejuízo que resultou a falta de independência de classe do
movimento sindical, especialmente das forças organizadas na CUT, que se
burocratizaram aos trâmites da CPI e os interesses evidentes do PT em
sangrar o governo até as próximas eleições esvaziando a luta das ruas e
ganhando protagonismo pela oposição no parlamento. Essa relação de correia
da central sindical com o PT explica a ausência completa de um plano de
ação contra os acordos do governo Yeda com o Banco Mundial que na
Assembleia Legislativa tiveram aprovação unânime, incluso do PT e do PC do
B. Pois a falta de independência de classe que nos referimos impediu que
se realizassem modalidades mais fortes de ação que pudessem provocar a
caída do governo.

Em terceiro, o acontecimento de São Gabriel, o assassinato de Elton Brum,
elevava o grau da crise política gaúcha para uma situação em que um plano
de ação direta unificado, do campo e da cidade, como por exemplo: a
paralisação de todo o serviço público, piquetes nas zonas industriais ou o
bloqueio de estradas e rodovias poderiam ter desestabilizado seriamente o
governo do estado e mudado a correlação de forças a nosso favor.

A concepção reformista não procura decisão pela luta direta dos
interessados, o que pode fugir do seu controle, mas pelos intermediários.
O movimento popular e sindical é grupo de pressão enquanto os agentes
parlamentares decidem e ganham os créditos.

SL: Qual tem sido o papel da imprensa gaúcha nos episódios de violência
policial?

MF: Das mídias burguesas foi evidentemente de uma desinformação criminosa.
Os grupos dominantes da comunicação são parte fundamental de uma estrutura
de poder que pôs na agenda da política a criminalização do protesto e da
pobreza.

SL:Que papel tem uma organização política anarquista num momento como este?

MF: Somos uma pequena organização dentro desse cenário, contudo fizemos
nosso lugar nas lutas que fizeram pauta na sociedade. Estar junto com os
que lutam deve ser um lema dos anarquistas, em qualquer lugar. Lutar
contra um governo corrupto e neoliberal e defender resolutamente as
liberdades públicas, apostando na força social das ruas, na ação direta
popular é nossa razão de ser. É aí que se abre perspectiva libertária, que
se geram relações de força para formas de poder popular contra os
intermediários reformistas.

SL:Vocês têm recebido solidariedade de fora do RS, como têm sido isso?

MF: Muita, muita solidariedade. De todos os cantos do Brasil, de nossa
América Latina e do Mundo. Logo depois da invasão da polícia na sede da
FAG, em poucos dias, se fizeram atos solidários no Uruguai, na Argentina,
na Espanha, na França, etc... Distintos grupos, organizações, militantes,
meios alternativos e libertários nos fizeram chegar seu apoio. Somos muito
agradecidos por todos e todas que nessa hora se moveram por essa causa.

SL:O que esperar para o dia 19 de julho?

MF: Mobilização da FAG e de todos e todas que sejam solidários, ou que
façam causa comum na pauta contra a criminalização do protesto. No dia 19
de julho estaremos concentrados para um ato de protesto. Não reconhecemos
a acusação de calúnia e difamação que a governadora nos imputa. Estaremos
até o fim por justiça e punição dos responsáveis pelo assassinato de Elton
Brum.

SL:Palavras finais?

MF: Não tá morto quem peleia!!!


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domingo, 12 de setembro de 2010

ATO PÚBLICO EM SOLIDARIEDADE A@S PRES@S ANARQUISTAS NO CHILE



 ATO PÚBLICO EM SOLIDARIEDADE A@S PRES@S ANARQUISTAS NO CHILE    SEGUNDA-FEIRA 13 DE SETEMBRO    CONCENTRAÇÃO: 2 p.m No MASP. Av Paulista    São Paulo    No dia 14 de Agosto de 2010 14 pessoas foram presas em Santiago do Chile e Valparaíso. Dez delas continúam presas até hoje, acusadad@s de associação ilícita terrorista com porte e/ou colcação de artefatos explosivos. Não existe nenhuma prova que demonstre a culpabilidade d@s compas em tais atos, mas mesmo assim estão sendo condenad@s, antes de haver julgamento. Estão em prisão preventiva. Sabemos que o motivo dessa prisão é a Caça ás bruxas que o estado chileno esta fazendo contra @s anarquistas e @s lutadorxs que ousam lutar contra a autoridade e o capitalismo.      ALERTA AO ESTADO CHILENO E SEUS SEGUIDORES    Nos dirigimos a vocês após o golpe repressivo e jornalístico do passado 14 de Agosto chamado "Operaçao Salamandra", onde nossxs companheirxs anarquistas foram detidxs e formalizadxs sob a acusaçao de "associaçao ilícita e colocaçao de artefatos explosivos”, ficando oito deles em prisao preventiva. E posteriormente dois delxs tendo sua saída às ruas revogada, ficando até agora 10 delxs em prisao preventiva.    A tao anunciada e esperada caça ao anarquista está se fazendo efetiva, após anos de penosas investigaçoes, com seus correspondentes vasculhamentos e invasoes, perseguiçoes, grampos telefonicos, intervençoes em correios eletrônicoos, etc, restando de tudo isso o amontoado mais absurdo de provas, que ofende a inteligência de qualquer pessoa com o mínimo de decência e respeito pela vida alheia. As maiores asneiras e armaçoes estao sendo usadas para justificar uma truculência deshumana que o Estado chileno está dirigindo axs que ousam se opor a seu domínio. Tao absurdas sao as provas que a fiscalia ainda dispoe de 180 dias para a investigaçao do caso.    Se vocês pensam que estaremos esperando impassíveis enquanto nossos companheirxs permanecem encarcerados nas prisoes de segurança máxima estao muito enganados!    Sabemos que tudo isto faz parte de um golpe ao avance da ofensiva contra o poder e a autoridade. Nao existem líderes, nem financamento internacional, nem organizaçao hierarquica alguma mais do que a turva imaginaçao do fiscal Peña.    Diante deste teatro político-jornalístico nossa posiçao é clara:    NAO VAMOS DESCANSAR ATÉ VER NAS RUAS A TODXS NOSSXS IRMAXS! 
SE COLOCAREM UM DEDO ENCIMA DE UM/UMA ESTAO MECHENDO COM TODXS! SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL COM XS ANARQUISTAS PRESXS! * To be removed from this mailing list please visit * *
http://www.cutandpastescripts.com/cgi-bin/newsletter/r.pl?dduenhas/ *

sábado, 4 de setembro de 2010

Deus e o Estado (1871)



Esta edição de Deus e o Estado, cujo título não foi de autoria de Bakunin, recupera a primeira, de 1882, organizada por Carlo Cafiero e Elisée Reclus, publicada em Genebra pela Gráfica Juraciana. No livro Bakounine - combats et idées, lançado pelo Instituto de Estudos Eslavos, Paris, 1979, p. 242, afirma Pierre Pécheaux em artigo intitulado "1882 - Deus e o Estado, editado por Carlo Cafiero e Elisée Reclus": "Este escrito, que é um fragmento da 2ª edição do Império Cnuto-Germânico e a Revolução Social, e o mais conhecido da obra de Bakunin, traduzido para uma quinzena de idiomas, é objeto de pelo menos 75 edições. De 1882 a 1973, levantamos 71 edições em quinze idiomas diferentes". Neste mesmo livro há um outro artigo - "Balanço das publicações" -, onde Pécheaux declara que houve quatro versões de Deus e o Estado: a primeira, de 1882, de Carlo Cafiero e Elisée Reclus; a segunda, de 1895, de Max Nettlau; a terceira, uma combinação dos textos contidos nas duas anteriores e a quarta, do citado Nettlau, acrescida de outros escritos de 1870 e 1871. Em função dessas combinações variadas de textos, cria-se a confusão durante muitos anos a respeito do conteúdo de Deus e o Estado, título que coube a Carlo Cafiero, na edição de 1882, mas que foi aproveitado em diferentes edições subsequentes.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Migrantes nordestinos são escravizados em Mato Grosso do Sul

Empregados da Fazenda 3R, em Figueirão (MS), não recebiam há meses. Sem salários, acabavam se endividando para comprar alimentos e itens básicos na cantina de área em nome da Itararé Administração e Participação Ltda.

Por Bianca Pyl

Recrutados para "limpar" a área e formar pastagem, trabalhadores aliciados pela empreiteira Sadomil Empreitadas entre novembro de 2009 e março de 2010 nos estados nordestinos do Maranhão, Piauí e Pernambuco foram libertados da Fazenda 3R, no município de Figueirão (MS).

O grupo de 14 pessoas foi encontrado em condições análogas à escravidão junto com um casal local e um adolescente de 16 anos, morador de Campo Grande (MS), pela comitiva formada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e pela Comissão Permanente de Investigação e Fiscalização das Condições de Trabalho em Mato Grosso do Sul (CPI/FCT). Ocorrida entre 18 e 19 de agosto, a operação foi motivada por uma denúncia feita à PRF. A propriedade pertence à Itararé Administração e Participação Ltda. e possui cerca de 10 mil hectares de extensão.

Risco: Trabalhador improvisava luva com meias velhas para aplicar agrotóxico (Foto: MPT/MS)

As vítimas chegaram à fazenda sem registro na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) e sem a Certidão Declaratória, que deve ser emitida pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) mais próxima do local de origem dos contratados. "A ausência de registros dos contratos de trabalho priva os trabalhadores de seus direitos sociais", afirma Simone Rezende, procuradora do trabalho que coordenou a ação.

Os empregados estavam sem receber salários há aproximadamente três meses. Diante disso, viam-se obrigados a comprar alimentos e outros itens básicos na cantina da fazenda. Os produtos eram comercializados por preços muito superiores aos de mercado. Uma caixa de suco, por exemplo, chegava a custar espantosos R$ 20. A fiscalização apreendeu o caderno de anotações das dívidas dos trabalhadores como prova da irregularidade.

Além de impedidos de retornar aos seus lares pela falta de recebimento regular dos salários e ainda por conta das dívidas contraídas junto à cantina, os empregados corriam riscos de contaminação. Eles aplicavam agrotóxicos sem nenhum Equipamento de Proteção Individual (EPI).

As jornada exaustivas também faziam parte da lista de ilícitos cometidos pelo empregador. A rotina diária começava às 4h30 da manhã e se estendia até às 17h. A pausa para almoço era irregular e o descanso semanal também. Não havia pagamento de horas extras.

Degradação: alojamento era feito de lona e a cama, de restos de madeiras (Foto: MPT/MS)

De acordo a procuradora Simone, os alojamentos eram barracos de lona preta. As camas era feitas de forma improvisadas. Os empregados tinham que comprar os próprios colchões, que custavam R$ 150 na cantina. "Eram colhões de espuma, finos e fora dos padrões de densidade mínima".

Não havia instalações sanitárias no local, só uma fossa cavada há pouco mais de um mês pelos próprios trabalhadores. Os empregados tomavam banho em uma bica da represa, mesma fonte em que o gado bovino saciava a sede e da qual era retirada a água para consumo e preparo dos alimentos.

Após a ação, as carteiras foram registradas com data retroativa e os auditores realizaram a rescisão indireta dos contratos. O empregador pagou mais de R$ 124 mil, incluindo valores referentes ao dano moral individual e às passagens de retorno dos empregados aos municípios de origem.

Os responsáveis também se comprometeram, por meio da assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), a pagar R$ 15 mil em danos morais coletivos. O montante será destinado para a compra de em equipamentos médicos e móveis para três entidades beneficentes: a Sociedade de Proteção aos Idosos de Camapuã (MS), à Associação Beneficente de Camapuã (MS) "Casa de Amparo a Criança Menino Jesus" e à Associação de Pais e Amigos de Crianças Excepcionais de Alcinópolis (MS).

Segundo a procuradora Simone, a fiscalização deve prosseguir em busca de informações das empresas ligadas à Fazenda 3R. "Por causa da gravíssima situação dos trabalhadores, nossa preocupação era garantir a segurança e os direitos das vítimas. Mas a investigação ainda não acabou".

A Repórter Brasil não conseguiu encontrar representantes da fazenda.