" Ser governado é... Ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legislado, regulamentado, parqueado, endoutrinado, predicado, controlado, calculado, apreciado, censurado, comandado, por seres que não têm nem o título, nem a ciência, nem a virtude (...). Ser governado é ser, a cada operação, a cada transação, a cada movimento, notado, registrado, recenseado, tarifado, selado, medido, cotado, avaliado, patenteado, licenciado, autorizado, rotulado, admoestado, impedido, reformado, reenviado, corrigido. É, sob o pretexto da utilidade pública e em nome do interesse geral, ser submetido à contribuição, utilizado, resgatado, explorado, monopolizado, extorquido, pressionado, mistificado, roubado; e depois, à menor resistência, à primeira palavra de queixa, reprimido, multado, vilipendiado, vexado, acossado, maltratado, espancado, desarmado, garroteado, aprisionado, fuzilado, metralhado, julgado, condenado, deportado, sacrificado, vendido, traído e, no máximo grau, jogado, ridicularizado, ultrajado, desonrado. Eis o governo, eis a justiça, eis a sua moral!

terça-feira, 26 de abril de 2011

JESUS MALVERDE










Malverde é visto por muitos como o santo padroeiro dos traficantes de drogas, dizem policiais e especialistas em cultura mexicana. Um templo foi erguido sobre seu túmulo na cidade de Culiacan, um lugarejo isolado no Estado mexicano de Sinaloa, há muito associado ao tráfico de ópio e maconha.

"Os traficantes vão ao túmulo e solicitam assistência, e depois voltam com seus carrões e pilhas de dinheiro para expressar gratidão", disse James Creechan, sociólogo canadense e professor adjunto da Universidade Autônoma de Sinaloa, em Culiacan. Mas Creechan, que apresentou um estudo sobre Malverde à Sociedade Norte-Americana de Criminologia, em 2005, acrescentou que os pobres também apelam a Malverde em suas orações, pedindo dinheiro e passagem livre pela fronteira dos Estados Unidos.

O influxo de imigrantes da região de Sinaloa, nos últimos anos, tornou a imagem de Malverde mais presente do lado norte da fronteira, especialmente no sudoeste e na Califórnia. A lenda do bandido generoso se espalhou entre os hispânicos, disse Creechan, inspirando muitos deles a construir altares para Malverde em suas casas, e a usar a colônia Malverde.

Manuel Simental, imigrante oriundo de Sinaloa, tem um altar dedicado a Malverde em seu restaurante, El Paisa, em Lynnwood, Califórnia. Segundo Simental, o altar traz boa sorte. Os clientes deixam notas e moedas no altar, que ele diz recolher e distribuir aos pobres em suas visitas ao México.

Cinco anos atrás, a Indio Products, indústria da região de Los Angeles que distribui produtos místicos, não ofereceria mercadorias referentes a Malverde. Mas hoje a linha de produtos Malverde da companhia é extensa e inclui velas, rosários, figurinhas, selos, óleos para o cabelo e detergentes sanitários. O presidente da empresa, Martin Mayer, diz que a popularidade de Malverde está crescendo. "Acabei de embarcar uma carga de bustos de Malverde para a Itália, na semana passada", disse Mayer. "Brinquei que provavelmente iriam para a Máfia".

Os produtos Malverde são usualmente vendidos nas botanicas - farmácias alternativas localizadas em bairros hispânicos que vendem ervas, ungüentos e outros produtos, incluindo amuletos e poções de magia negra. "As pessoas dizem que Malverde as ajudou a fazer isso ou aquilo; em geral são os drogados, que acreditam que ele os protege da polícia", disse Raul Gonzalez, dono e uma botanica chamada Mystic Products, em Compton, Califórnia. "É o poder da mente, sabe? Eles acreditam nisso, se arriscam e se saem bem. Mas um dia serão apanhados".

De fato as autoridades de repressão às drogas no México e nos Estados Unidos dizem que estátuas, tatuagens e amuletos de Malverde podem servir como indicação de atividade ilegal. "Nós mandamos patrulhas aos estacionamentos de hotéis e motéis locais à procura de carros com símbolos de Malverde nos pára-brisas ou pendurados no retrovisor", diz o sargento Rico Garcia, da divisão de narcóticos do departamento de polícia de Houston. "Isso nos oferece indicações de que há alguma coisa em curso".

Tribunais na Califórnia, Kansas, Nebraska e Texas decidiram que objetos alusivos a Malverde são prova admissível em casos de comércio de drogas e lavagem de dinheiro. "ão representam prova direta de culpa, mas poderiam definitivamente ser usados em combinação com outras coisas, como pilhas de dinheiro, embalagens plásticas e balanças" disse José Martinez, agente especial da Agência de Combate às Drogas (DEA) norte-americana.

No mês passado, a Cervejaria Minerva, uma pequena fabricante mexicana de cerveja no Estado de Jalisco, centro-oeste do país, lançou a cerveja Malverde. Executivos da empresa dizem ter escolhido o nome e a imagem de Malverde para o produto porque ele era uma das figuras mais reconhecidas e admiradas em grupos de discussão. "s traficantes de drogas bebem essa cerveja como se fosse água benta" disse Garcia.

Onipresente na cultura hispânica, Malverde chegou à televisão, ao cinema e ao teatro. Templos em sua honra faziam parte do cenário em um recente episódio da série CSI, da rede de TV CBS, e de A Man Apart, filme estrelado por Vin Diesel em 2003.

"O apelo de Jesus Malverde está no fato de que ele era um inconformado", disse Guillermo Aviles-Rodriguez, diretor artístico do Watts Village Theater, que produziu uma peça sobre Malverde. O fato de que a Igreja Católica não reconheça Malverde como santo também ajuda em sua imagem de rebelde. "Há algo de belo nisso", afirma Aviles-Rodriguez, "porque foi o povo que fez dele um santo. Ele representa a crença, o poder e a vontade do povo".

Nenhum comentário:

Postar um comentário