Malverde é visto por muitos como o santo padroeiro dos traficantes de drogas, dizem policiais e especialistas em cultura mexicana. Um templo foi erguido sobre seu túmulo na cidade de Culiacan, um lugarejo isolado no Estado mexicano de Sinaloa, há muito associado ao tráfico de ópio e maconha.
"Os traficantes vão ao túmulo e solicitam assistência, e depois voltam com seus carrões e pilhas de dinheiro para expressar gratidão", disse James Creechan, sociólogo canadense e professor adjunto da Universidade Autônoma de Sinaloa, em Culiacan. Mas Creechan, que apresentou um estudo sobre Malverde à Sociedade Norte-Americana de Criminologia, em 2005, acrescentou que os pobres também apelam a Malverde em suas orações, pedindo dinheiro e passagem livre pela fronteira dos Estados Unidos.
O influxo de imigrantes da região de Sinaloa, nos últimos anos, tornou a imagem de Malverde mais presente do lado norte da fronteira, especialmente no sudoeste e na Califórnia. A lenda do bandido generoso se espalhou entre os hispânicos, disse Creechan, inspirando muitos deles a construir altares para Malverde em suas casas, e a usar a colônia Malverde.
Manuel Simental, imigrante oriundo de Sinaloa, tem um altar dedicado a Malverde em seu restaurante, El Paisa, em Lynnwood, Califórnia. Segundo Simental, o altar traz boa sorte. Os clientes deixam notas e moedas no altar, que ele diz recolher e distribuir aos pobres em suas visitas ao México.
Cinco anos atrás, a Indio Products, indústria da região de Los Angeles que distribui produtos místicos, não ofereceria mercadorias referentes a Malverde. Mas hoje a linha de produtos Malverde da companhia é extensa e inclui velas, rosários, figurinhas, selos, óleos para o cabelo e detergentes sanitários. O presidente da empresa, Martin Mayer, diz que a popularidade de Malverde está crescendo. "Acabei de embarcar uma carga de bustos de Malverde para a Itália, na semana passada", disse Mayer. "Brinquei que provavelmente iriam para a Máfia".
Os produtos Malverde são usualmente vendidos nas botanicas - farmácias alternativas localizadas em bairros hispânicos que vendem ervas, ungüentos e outros produtos, incluindo amuletos e poções de magia negra. "As pessoas dizem que Malverde as ajudou a fazer isso ou aquilo; em geral são os drogados, que acreditam que ele os protege da polícia", disse Raul Gonzalez, dono e uma botanica chamada Mystic Products, em Compton, Califórnia. "É o poder da mente, sabe? Eles acreditam nisso, se arriscam e se saem bem. Mas um dia serão apanhados".
De fato as autoridades de repressão às drogas no México e nos Estados Unidos dizem que estátuas, tatuagens e amuletos de Malverde podem servir como indicação de atividade ilegal. "Nós mandamos patrulhas aos estacionamentos de hotéis e motéis locais à procura de carros com símbolos de Malverde nos pára-brisas ou pendurados no retrovisor", diz o sargento Rico Garcia, da divisão de narcóticos do departamento de polícia de Houston. "Isso nos oferece indicações de que há alguma coisa em curso".
Tribunais na Califórnia, Kansas, Nebraska e Texas decidiram que objetos alusivos a Malverde são prova admissível em casos de comércio de drogas e lavagem de dinheiro. "ão representam prova direta de culpa, mas poderiam definitivamente ser usados em combinação com outras coisas, como pilhas de dinheiro, embalagens plásticas e balanças" disse José Martinez, agente especial da Agência de Combate às Drogas (DEA) norte-americana.
No mês passado, a Cervejaria Minerva, uma pequena fabricante mexicana de cerveja no Estado de Jalisco, centro-oeste do país, lançou a cerveja Malverde. Executivos da empresa dizem ter escolhido o nome e a imagem de Malverde para o produto porque ele era uma das figuras mais reconhecidas e admiradas em grupos de discussão. "s traficantes de drogas bebem essa cerveja como se fosse água benta" disse Garcia.
Onipresente na cultura hispânica, Malverde chegou à televisão, ao cinema e ao teatro. Templos em sua honra faziam parte do cenário em um recente episódio da série CSI, da rede de TV CBS, e de A Man Apart, filme estrelado por Vin Diesel em 2003.
"O apelo de Jesus Malverde está no fato de que ele era um inconformado", disse Guillermo Aviles-Rodriguez, diretor artístico do Watts Village Theater, que produziu uma peça sobre Malverde. O fato de que a Igreja Católica não reconheça Malverde como santo também ajuda em sua imagem de rebelde. "Há algo de belo nisso", afirma Aviles-Rodriguez, "porque foi o povo que fez dele um santo. Ele representa a crença, o poder e a vontade do povo".
Nenhum comentário:
Postar um comentário