" Ser governado é... Ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legislado, regulamentado, parqueado, endoutrinado, predicado, controlado, calculado, apreciado, censurado, comandado, por seres que não têm nem o título, nem a ciência, nem a virtude (...). Ser governado é ser, a cada operação, a cada transação, a cada movimento, notado, registrado, recenseado, tarifado, selado, medido, cotado, avaliado, patenteado, licenciado, autorizado, rotulado, admoestado, impedido, reformado, reenviado, corrigido. É, sob o pretexto da utilidade pública e em nome do interesse geral, ser submetido à contribuição, utilizado, resgatado, explorado, monopolizado, extorquido, pressionado, mistificado, roubado; e depois, à menor resistência, à primeira palavra de queixa, reprimido, multado, vilipendiado, vexado, acossado, maltratado, espancado, desarmado, garroteado, aprisionado, fuzilado, metralhado, julgado, condenado, deportado, sacrificado, vendido, traído e, no máximo grau, jogado, ridicularizado, ultrajado, desonrado. Eis o governo, eis a justiça, eis a sua moral!

terça-feira, 16 de março de 2010

Festival das Resistências e Arrastão Latino Americano de Rádios Livres


Aconteceu neste sábado, dia 13, na Cidade do México, o Festival das Resistências, em que 12 bandas e músicos ajudaram a reunir 10 mil e 400 pessoas contra a criminalização dos movimentos sociais e para fortalecer e dar visibilidade a 9 movimentos indígenas, camponeses e de trabalhadores: o Consejo Autónomo Regional de la Zona Costa de Chiapas, Consejo de Ejidos y Comunidades Opositores a la Presa La Parota, Consejo Indígena Popular de Oaxaca Ricardo Flores Magón, Coordinadora Regional de Autoridades Comunitarias - Policía Comunitaria, Frente de Pueblos en Defensa de la Tierra de San Salvador Atenco, Frente Popular Francisco Villa Independiente - UNOPPI, Radio Ñomndaa, SME, e as Viudas de Pasta de Conchos.

Ao mesmo tempo, rádios livres e comunitárias de pelo menos quatro países (México, Colômbia, Brasil e Argentina) interligaram suas programações ao Festival e entre si, trocando conteúdos e retransmitindo pela internet e em ondas eletromagnéticas. No Brasil o "arrastão" contou com a rádio livre da Universidade Federal de São Carlos (SP) e, no Rio de Janeiro, a rádio Porto Área que, em sua primeira transmissão teste neste sábado, não apenas participou do Festival como realizou um encontro com rádio livreiros de vários coletivos, visando rearticular o rizoma de rádios livres na região e propor ações para o Fórum Social Urbano. No mesmo espaço houve também uma reunião do rizoma Flor da Palavra, de inspiração zapatista, que atua no sentido de facilitar a comunicação e a solidariedade entre os movimentos sociais e também com outros grupos, especialmente os de "abajo".

Sítio do Festival: Jovens em Resistência Alternativa

"Arrastões" já realizados no Brasil: (2006) Rede Arrastão de Rádios - Pequeno relato | (2006) Arrastão de rádios livres - nesse fim de semana | (2006) Rizoma internacional de rádios livres entra em ação neste sábado | (2006) Rádio Arrastão, agora, aqui, em qualquer rádio (ou computador ligado a internet) | (2005) Programação de domingo da Rede Arrastão | (2005) Programação de sábado da Rede Arrastão

sexta-feira, 12 de março de 2010

Confira: Perfil com Mano Brown e KL Jay!

"Com o discurso desafiador do Racionais e a língua afiada que lhes é tradicional, Mano Brown e KL Jay mostram porque estão entre as figuras mais importantes do rap nacional"


Por Bruno Mateus - Ragga



“Mano Brown e KL Jay vão tocar em BH. Parece que vai rolar uma entrevista”, disse a editora Sabrina. Segundos depois, não pude evitar a imagem de Mano Brown de cara fechada, braços cruzados e bigodinho feito com precisão matemática. E não por acaso. Avesso a entrevistas e exposição, ele, assim como o resto do grupo, foi coberto, na última década, por uma cortina de mistério e curiosidade.

Pedro Paulo Soares Pereira, como o rapper e vocalista Mano Brown foi registrado, e Kleber Geraldo Lelis Simões, o DJ KL Jay, são integrantes do mais respeitado e influente grupo de rap do Brasil, o Racionais MC's, que ainda tem os MCs Edy Rock e Ice Blue na formação. Fundado no final dos anos 1980, o Racionais ficou conhecido em todo o país com o álbum ‘Sobrevivendo no Inferno’, de 1998. Prêmios na MTV e clipes na programação da emissora alavancaram a venda de discos e deram prestígio ao quarteto.


Desde então, muito se fala sobre a postura do grupo, que evita ao máximo estar sob os holofotes da grande mídia. Depois de sete anos sem lançar material inédito – o último foi o álbum duplo ‘Nada como um dia após o outro’, de 2002 –, e há pouco mais de dois sem vir a Belo Horizonte, o Racionais está gravando o próximo CD, ainda sem nome, previsto para o primeiro semestre deste ano. Morador há 34 anos do Capão Redondo, uma das periferias mais violentas do país, o vocalista do Racionais se diz um sobrevivente do inferno, ainda que, segundo o próprio, estejamos vivendo nele. KL Jay mora no Tucuruvi, região norte de São Paulo.

Às 17h de uma terça-feira de costumeiro calor de janeiro, o fotógrafo e eu saímos da redação da Ragga rumo ao aeroporto de Confins. Lá nos encontramos com os DJs e produtores Rodrigo Xeréu e Vítor Sobrinho, e o também DJ Zeu, responsáveis pela vinda da dupla do Racionais a Belo Horizonte. Duas horas e meia depois, Mano Brown e KL Jay, acompanhados do rapper Dom Pixote, pisaram em solo belo-horizontino. KL Jay comprou castanha, amendoim e passas, tudo misturado, como se fosse pipoca, e nos ofereceu. Quando eu ainda tinha alguns amendoins na palma da mão, entramos no carro. Nesse momento, começara uma jornada de quase 12 horas com o vocalista e o DJ do Racionais. Tempo suficiente para falar sobre violência, futebol, educação, cultura e arte e apagar da cabeça a tal imagem do sujeito de cara amarrada, braços cruzados e bigodinho.

Como vocês se conheceram?

Mano Brown: Foi através de um amigo chamado Milton Sales, que virou empresário do grupo. KL Jay estava produzindo uma fita demo. Edy Rock era o cantor. Blue e eu chegamos lá... Essa história é longa... Da primeira vez, eu e Blue, na plateia, vimos KL Jay e Edy Rock se apresentando e a gente já se interessou. A gente não se conhecia e vimos eles [KL Jay e Edy Rock], tocamos e gostamos da figura, do estilo, do som. Até então a gente não se conhecia.

O rap do Racionais tem compromisso com o quê?

MB: Com nós mesmos, nosso coração, nossas verdades. Com a verdade acima de tudo, morou? Compromisso com a verdade e quem acredita em nós.

Ser considerado a voz da periferia o incomoda?

MB: Não me incomoda, mas não sou a voz, sou uma das vozes. Acho que a maior revolução daqui pra frente é todo mundo assumir sua carga de responsabilidade. Essa é a verdadeira revolução daqui pra frente.


Mano Brown já declarou que o verdadeiro público do grupo é o público da periferia. É constrangedor saber que as classes média e alta também consomem a música de vocês?

KL Jay: A música chega para quem quiser ouvir, é igual ao ar, ela vai pelo ar. Não dá para impedir um cara de classe média alta de ouvir a música, gostar e até se identificar e sair cantando.

MB: Constrangedor não é. Mas é curioso, porque você tenta se colocar no lugar do cara, de onde ele vem, o que ele é e o que sente ouvindo aquilo ali. Uma coisa é um cara do nosso meio, da nossa raça, do nosso convívio, e outra é um cara que não tem nada a ver com você. O que será que passa pela mente dele? É curioso.

2010 é um ano importante para a política e o futuro do país. O que vocês estão achando do governo Lula?

MB: Não é perfeito, mas é o melhor que tivemos até hoje. É um governo mais humano.

Passa pela cabeça do grupo, ou de vocês dois, fazer campanha para alguém?


KLJ: Essa fase já foi.
Brown: Apesar de a gente sempre fazer campanha, mesmo involuntariamente. Antes de ser conhecido, a gente já fazia por conta própria, sem ganhar nada, sem reconhecimento nenhum. A gente nunca negou voz nessa parte política.

Algumas pessoas dizem que as letras do Racionais só tratam de violência, periferia, crime. Por outro lado, vocês falam muito sobre fé e esperança.

MB: Claro. Não existe assunto obrigatório, o rap não pode estar preso a um assunto só, nem a dois ou três. O rap tem que falar da vida. Quando a gente fala de periferia, as pessoas se apegam na violência da ideia, mas a gente fala de vida, e não violência, mas é a violência que chama as pessoas.


Voltando do aeroporto, comentam sobre a beleza das garotas de Belo Horizonte e de como a cidade se parece com a periferia de São Paulo na década de 1970.

Como foi apresentar o Yo! Rap na MTV?

KLJ: Foi muito bom, uma época que fortaleceu bastante o rap no Brasil. Tinha muita gente em evidência: 509-E, Sabotage, Xis, SNJ, RZO, Racionais, todo mundo fazendo show, várias festas. O Yo! ia cobrir festas e shows em vários lugares. Eu tinha uma sintonia muito boa com a diretora do programa, então fluiu.

No show de hoje, por exemplo, vocês chegam com tudo já programado?

KLJ: Tudo improvisado. Tem sido assim há tantos anos já, né?
Brown: Desde que o Racionais existe.

O último álbum de inéditas do Racionais foi em 2002 e teve o ao vivo em 2006. Por que esse hiato de sete anos?
MB: Natural, nada calculado nem planejado, foi natural mesmo. O tempo passou rápido.


O motorista dá um cigarro de palha para Mano Brown, que me pede o isqueiro e diz que quer comprar a coleção inteira do Clube da Esquina. “Quero comprar os CDs desses caras aí, quero a coleção inteira.” Logo em seguida, começa a cantar ‘Nada será como antes’, de Milton e Ronaldo Bastos. “Qualquer hora e qualquer direção, sei que nada será como antes, amanhã... Que saudade de tantos amigos, amanhã e depois de amanhã...” (sic)

Você gosta de muita coisa antiga, né?

MB: Ah, as coisas boas de música é “das antiga” né, cara? Coisa nova tem também, as melhores são inspiradas nas coisas velhas, desde o rap até Amy Winehouse.

Vocês têm vontade de morar em outros lugares fora de São Paulo?

MB: Tenho. Gosto de Belo Horizonte, Curitiba e interior do Paraná, por incrível que pareça, eu gosto.
KLJ: Amo São Paulo, sou apaixonado por São Paulo, gosto pra caralho de São Paulo. Puta que pariu! Mas moraria, talvez, em Salvador. Um outro lugar que moraria é Nova York, com certeza por ser parecida com São Paulo, é uma São Paulo melhorada, mas não está nos meus planos. São Paulo é foda. O que mais? Costa do Marfim, na África. Vi umas fotos, mano. Sensacional. Me falaram que o povo lá é receptivo, tranquilão. República Dominicana, iria lindo pra lá.

Pergunto se eles conhecem a Rádio Favela. “Quando estava começando, nós viemos. Jogamos lá no campo, quando [a rádio] era piratinha ainda. Agora tá bom né, mano?”, pergunta Mano Brown, que começa a contar a história de um amigo que deixou cair Super Bonder na calça. Manchou toda. “Ele ficou nervoso demais. É a calça mais nova que ele tem.” Por volta de 20h30, chegamos ao hotel. Meia hora depois, assustadoramente famintos, fomos jantar em uma churrascaria pelas redondezas. Comemos e falamos sobre música. Mano Brown comparava Jorge Ben e Tim Maia e KL Jay não queria conversa. Após estarmos todos satisfeitos, paramos na porta do restaurante para bater papo e fumar um cigarro.

Como você vê a produção do rap no país?

MB: Cada estado tem suas características. Brasília tem uma característica, São Paulo tem outra. Zona Leste de São Paulo tem um estilo, Zona Norte tem outro. São Paulo é grande, é quase um país. Você não tem só um estilo de música, as regiões são distantes umas das outras. Cada uma tem uma influência diferente da outra. Isso não quer dizer que você vai dividir o bagulho e inventar um rótulo.

E quando o rótulo acontece na música do Racionais?

MB: Racionais é antirrótulo. A imprensa cria os rótulos. Ela cria para ter domínio, controle sobre aquilo. A crítica especializada de música cria muito rótulo.

Depois de alguns tragos, fomos para o carro pegar o caminho de volta ao hotel. “Isso aqui tá uma bagunça”, diz o fotógrafo, culpando sua profissão pela desordem do carro. “Tá precisando trocar as buchas da suspensão, hein”, diz KL Jay, tranquilo, após passarmos por um quebra-mola.

Espera-se do rap e do rapper uma postura crítica, rebelde. Você acha que necessariamente tem que se esperar isso?

MB: Quando você faz o que se espera, mata o movimento. Não pode ser previsível. Se o Exército vai invadir um bagulho, ele avisa antes? É igual esperar o Racionais fazer A, B e C, e o Racionais fizer A, B e C, certinho, igual os caras querem. Aí acabou o Racionais, é o caminho mais curto para acabar: um grupo previsível.

O que você curte fazer quando não está trabalhando com música?

MB: Costumo ficar na favela com os caras, trocando uma ideia, curtindo um som. Beber, eu bebo muito pouco, fico mais conversando mesmo. Trabalho pensando e penso trabalhando.

Quando o ‘Sobrevivendo no inferno’ alcançou aquele sucesso imenso e vocês ganharam uma porrada de prêmios na MTV, em 1998, vocês foram receber os prêmios e o seu discurso foi um tanto quanto raivoso. Era um momento para falar muita coisa para muita gente escutar?

MB: Ah, aquele momento era importante, não tem como negar, era o momento. Não para o Racionais, mas até para o Brasil. Muita coisa não se falava num momento daquele. Para nós, era uma final de Copa do Mundo, mano. O Pelé, quando fez o milésimo gol, falou das crianças, é a mesma coisa.



Por volta de 23h, deixamos Brown e KL Jay no hotel. O próximo encontro seria no camarim da boate em que os dois se apresentariam. Nesse ínterim, eu e o fotógrafo sentamos em um café para bater papo. Quando a terça-feira já ficava para trás e a quarta anunciava sua primeira hora, entramos no local, que já estava lotado. Às 2h, Brown e KL Jay chegaram ao camarim, que era invadido pela música da boate. Enquanto KL Jay vidrava os olhos no seu laptop, sentei-me ao lado de Mano Brown para mais uma conversa. Ainda que o barulho atrapalhasse bastante.

Tem muita gente que está aqui por sua causa. É difícil lidar com essa expectativa do público?

MB: Acho que meu foco é o som, a música. Meu compromisso é no coração, meu. Onde estou, estou com o coração .

Você falou que o compromisso da música do Racionais é com a verdade, com o coração.

MB: Com Deus, primeiro.

Qual é o papel da religião na sua vida?

MB: Sou um cara que tenho fé nas boas atitudes, na união, fé em Deus. Acredito que Deus é isso, é união, música bonita, criança sorrindo, uma árvore que está sendo plantada.

Vocês sempre foram muito arredios com a grande mídia [desde que foi lançada, uma revista nacional especializada em música tentou uma entrevista com Brown, que só foi realizada em dezembro do ano passado]. Por que vocês tomaram essa atitude?

MB: Não era interessante na época, não ia somar. Nosso foco era outro. A gente sabia o que queria e não era aquilo, não estava nos nossos planos.

Você quer mudar isso?

MB: Não quero mudar isso não. Só faço o que quero. Só o que for conveniente.Tenho o direito de querer ou não.

Muitos podem achar que é antipatia e até arrogância.

MB: Podem achar, não pega nada, nada pessoal. Sabe uma coisa que dá para colher disso tudo? Dinheiro. Ou orgulho. Quero ter os dois intactos. [risos]

Até que ponto o dinheiro é importante na sua vida?

MB: No mesmo ponto que é importante na sua e na de todo brasileiro: sobrevivência. Dinheiro parado fede, tenho essa filosofia. Não acho que ganhá-lo é errado. Dinheiro parado fede, tem um cheiro estranho.

O que te irrita no mundo da música?

MB: Não tenho nada em mente agora não.

O Santos [Futebol Clube] te tira do sério?

MB: [risos] Já me fizeram essa pergunta.

E a resposta é a mesma?

MB: [o olhar de Brown se perde no camarim] Fiquei disperso de uma hora para outra, por que será? [risos]

O que o Santos representa para você?

MB: Meu primeiro amor. Eu nem sabia beijar e já gostava do Santos. Vou a todos os jogos.

E a Seleção?

MB: Não acompanho muito não. Não me preocupa a seleção, não sei porquê.

Você conhece o Pelé?

MB: Não.

Tem vontade?

MB: Tenho. Pelé botou o Brasil no mapa. Quando o Brasil foi campeão da Copa [de 1958, na Suécia], Brasil, Bolívia e Chile eram a mesma coisa, ninguém conhecia o Brasil.

O que mudou de Pedro Paulo Soares Pereira para Mano Brown?

MB: Pedro é o nome pelo qual meus amigos mais antigos me chamam e Brown é o nome pelo qual me chamam nos últimos 20 anos. Aí perguntam: Mas é o mesmo cara? Não é dupla personalidade não, é uma só. Não é como o Bruce Wayne e o Batman, não é isso não.

Você é saudosista?

MB: Sou saudosista, mas sou futurista também.

Como você se imagina daqui a 10 anos?

MB: Cabelo quase todo branco, um pouco mais preguiçoso, tipo Dorival Caymmi.

O momento esperado se aproximava. Gravador desligado, fim de papo. Após ver um forte show de KL Jay e Mano Brown, acompanhados de Pixote, tudo o que eu queria era pegar um táxi, chegar em casa, tomar uma ducha e cair em sono profundo. No dia seguinte, passei rapidamente pela redação da Ragga e, ao meio-dia, já estava na porta do hotel. Mano Brown e KL Jay desceram quase uma hora depois. Eu, fotógrafa (sim, o profissional atrás da lente mudou, assim como seu gênero) e KL Jay fomos juntos no carro. Se na noite anterior o DJ estava caladão, no trajeto até Confins aconteceu o contrário. Quando falávamos sobre ditadura, revolução e educação, KL Jay começou a disparar:



É difícil falar para um moleque da periferia que existe um caminho a ser trilhado que é bom e que ainda há esperança?

KLJ: É difícil. Você não está lá com ele. Você fala com ele através da música, mas tem o dia a dia, né? Do mesmo jeito que é difícil para um moleque rico que tem os pais ausentes, loucos, drogados e que tem uma mentalidade de igualdade, ver os seus próximos terem ideias preconceituosas e racistas. Vários ricos se drogam e são viciados por não terem esse carinho, esse diálogo. É o amor que vai mudar tudo. Espiritualmente falando, é o amor que muda. Materialmente, é a educação.

O que você tem escutado?

KLJ: Vou falar uma coisa que estou escutando muito: John Coltrane. Sensacional. Ele devia gostar muito de sexo, porque o vejo tocando, a loucura que é ele tocando, é como duas pessoas terem uma puta atração uma pela outra e estarem ali juntas. E outras coisas também: Jay-Z ouço todo dia. Para mim, ele representa o progresso. Quando crescer, quero ser igual a ele.

Tem muita divergência musical no Racionais?

KLJ: Um pouco, você viu ontem [no jantar, quando, numa discussão sobre Jorge Ben Jor e Tim Maia, Mano Brown, apesar de gostar de ambos, disse preferir Jorge.], né? [risos]

[risos] Por isso pergunto.

KLJ: Ele [Brown] tem a opinião dele e eu tenho a minha e nunca vai haver um consenso. Eu amo Jorge Ben Jor do mesmo jeito que amo Tim Maia, não dá para falar quem é melhor, não dá. Quem é o rei do futebol? Pelé, mas tem gente que acha que o Garrincha é melhor. Tudo bem.

Chegamos em Confins. Faltam 45 minutos para o avião decolar. Novo encontro com Mano Brown.

Você já teve medo de ser assassinado, como Malcom X, Martin Luther King, Tupac e Sabotage?

MB: Não tenho essa brisa não, mas é um lance que os que oferecem perigo convivem com isso de alguma forma. Quem carrega o piano, dá a cara pra bater, convive com isso.

Concorda que você seria um alvo?

MB: Se eu andar moscando, vacilando, talvez. Todo cara que põe a mão na ferida sabe o risco que corre. É como assaltar um banco. Você não trabalha sem a possibilidade da morte, não existe isso.

Qual é a sua opinião em relação à legalização das drogas?

MB: Já existem várias drogas legalizadas, as piores já são legalizadas. Faltam duas ou três, as outras todas já são. Tem que haver uma revisão geral, as leis no Brasil parecem muito antigas.

E qual é a responsabilidade do usuário?

MB: A primeira responsabilidade do usuário é com ele mesmo, com a própria saúde, com o tempo. A Bíblia fala que o corpo do Homem é o templo de Deus. A primeira política do usuário é interna, causar uma rebelião interna e ele vai ver que não está bom. Agora, no coletivo, se é que existe campanha antidroga no coletivo, cada usuário usa por um motivo.

Quem é ou o que é o playboy para você?

MB: Você não vai achar um termo. A cultura playboy existe, e pode ser até pobre. Às vezes é um rico, mas que sabe se posicionar no meio de qualquer um e qualquer lugar. Ou pode ser um classe média ou um cara quebrado, mas tem problema com certas pessoas e classes, e aí é uma atitude de playboy porque é seletiva, elitista, segregadora, medrosa. O playboy é que tem essa atitude, a cor dele e quanto ele tem no bolso eu já não sei, entendeu? [risos].

Você já sofreu muito com o preconceito?

MB: Ô, mano, já sofri preconceito de cor.

Dentro da periferia também?

MB: Dentro, pode ser, mas a maioria das vezes sofri fora. Na periferia, os caras que nem eu são a massa, são todo mundo. É uma pátria, um país.

Pausa para um lanche rápido. O voo sai às 15h. São 14h30.

Você é realmente um sobrevivente do inferno?

MB: Sou, mas o inferno está aí, o inferno continua. Tem muitos vivendo no inferno neste exato momento.

Te dá vontade de fazer alguma coisa em relação a isso?


MB: Acho que essas coisas são como acreditar em Deus, são as pequenas coisas. Não é só atrás de um balcão de uma ONG, nem cortando fita, inaugurando evento. São pequenas coisas, pequenos pensamentos, onde você pode eliminar racismo, injustiça.

É possível eliminar o racismo no Brasil?
MB: É cada um tirar de si o racismo. É mais fácil administrar a si mesmo do que o Brasil. A mudança tem que partir de cada um.

O povo está preparado para isso?
MB: Vem se preparando, está chegando.

Você é um cara otimista?

MB: Sou otimista, claro. Pessimismo nunca, suicídio coletivo nunca, tipo Charles Manson.

Que maluco aquele cara, não? Viajou que a esposa [a atriz Sharon Tate] do diretor Roman Polanski estava grávida do filho do Satanás, como no filme ‘O bebê de Rosemary’. Ele orquestrou e mandou que integrantes de sua seita, a Família Manson, fossem à mansão de Polanski matar a modelo, que estava com outras três pessoas que também foram mostas e ainda disse que algumas músicas dos Beatles o haviam influenciado.

MB: O John Lennon era vivo ainda?

Sim. Isso aconteceu em 1969, os Beatles ainda estavam na ativa.

MB: O sonho não tinha acabado ainda.

O sonho nunca vai acabar.

MB: O sonho não acaba, mas o show termina.

CONFIRA O QUE MAIS ROLOU NA ENTREVISTA COM A DUPLA

Retirado do Blog http://www.lokodocerrado.com/

segunda-feira, 8 de março de 2010

Repóter Brasil

Trabalhadoras sofrem com desigualdade de gênero e de raça
Com participação significativa no mercado de trabalho e responsáveis pelo sustento de uma parcela cada vez maior de famílias brasileiras, mulheres enfrentam quadro de desigualdade, que é agravado pela questão racial

Pressão é grande contra indígenas e quilombolas, diz antropóloga
Processos de homologação de terras indígenas e quilombolas pouco avançam diante dos impactos de obras de infra-estrutura e da ofensiva de fazendeiros, mineradoras e madeireiros. Comunidades seguem vulneráveis e confinadas

Programa de rádio "Vozes da liberdade":

Nesta edição:

- Antropóloga avalia disputas envolvendo terras indígenas e quilombolas (2ª parte da entrevista

quinta-feira, 4 de março de 2010

A LEI 11.343 E O CULTIVO NÃ0-COMERCIAL NO BRASIL


A Lei 11.343 que entrou em vigor no Brasil em outubro de 2006 descreve penas semelhantes para as condutas de porte ou plantio para consumo pessoal, e prevê para estas penas alternativas e no máximo multa, mas nunca prisão em flagrante ou pena de restrição à liberdade.

O Movimento Social pelo cultivo não-comercial no Brasil está lançando duas campanhas:

1) Solicitar ao Governo Brasileiro um estudo sobre a viabilidade da implantação do modelo Cannabis Social Clubs no país;

2) Repudiar o Projeto de Lei 252 que trâmita no Senado Federal, propondo o aumento da pena para o cultivo para consumo pessoal.

A ENCOD vem chamando a atenção para a proposta Cannabis Social Clubs, que opera dentro do princípio de que o cultivo não-comercial da planta, individual ou coletivo, é uma prática que atua na prevenção ao crime organizado e na redução de danos e custos sociais relacionados ao mercado criminalizado de maconha. Em meio à uma Guerra às Drogas virtualmente sem fim, essa proposta surgem como a principal bandeira de paz a um conflito que em sua profundidade e extensão vitimiza a todos os envolvidos: Policiais e juízes que são obrigados, muitas vezes contra suas interpretações pessoais, a atuar sob o sistema; cidadãos que são criminalizados pela conduta de porte ou plantio para consumo pessoal; cidadãos que são estigmatizados por se envolverem nas esferas de distribuição e produção em um mercado tornado criminoso.

Em alguns países da Europa existem atualmente Associações Civis pelos direitos das pessoas que usam maconha que lutam pela implantação desse modelo, na Espanha, por exemplo, são mais de 30 associações em todo o país, e 1 Federação de Associações. Algumas delas atualmente empreendem cultivos coletivos, e vivem nos limites da legalidade, muitas vezes enfrentando processos judiciais longos, apesar de quase sempre favoráveis.

Em países como Austrália, Inglaterra, Espanha e Holanda diversas pesquisas e relatórios têm demonstrado que o nascimento de um Movimento Social em torno do cultivo não-comercial de Cannabis sativa tem causado alterações significativas no mercado dos derivados da planta.

Esses e outros paíse atualmente têm adotados políticas e legislações mais tolerantes com relação às práticas de cultivo para consumo próprio e até mesmo a de cultivo coletivo sem finalidades comerciais. Esses países compreenderam que é possível interferir de formas mais eficazes na configuração do mercado fornecedor, sem necessariamente tornar o mercado legal, conforme é possível conferir nos relatórios produzidos na Inglaterra e Austrália.

A ENCOD está atualmente empreendendo uma campanha para levar a proposta do Cannabis Social Clubs para ser aprovada na reunião da ONU em Vienna, 2008, quando serão revistas as Políticas Internacionais sobre Drogas em vigor. Estamos acompanhando esse debate e continuaremos dialogando com essa instituição.

Brasil

No Brasil essa discussão é recente, apesar de já existir um Movimento Social que busca o auto-cultivo como solução ao contato com o mercado criminalizado há pelo menos 6 anos. Atualmente, além da Ananda - Associação Interdisciplinar de Estudo sobre Plantas Cannabaceae, da Psicotropicus, e do Growroom, a ONG Koinonia - Presença Ecumênica e Serviço, que atua em diversas frentes combatendo os problemas socias das populações camponeses no Nordeste, e há anos vem denunciando os abusos cometidos contra os cultivadores no chamado "Polígono da Maconha", também está engajada na divulgação do modelo Cannabis Social Clubs.

No entanto, somente em setembro de 2006 entrou em vigor a Lei 11.343 que entre outras definições equipara as condutas de porte e plantio para consumo pessoal, e prevê para estas contravenções penas nãos restritivas à liberdade. Além disso, a Nova Lei Antidrogas descreve a Redução de Danos como um conceito tão importante quanto os de prevenção e atenção aos usuários ou dependentes. A Lei 11.343 também prevê que essas estratégias devam respeitar as especificidades de cada substância psicoativa, do seu consumo, e das culturas das comunidades onde ocorre o uso.

Dentro desse paradigma recém inaugurado por essa legislação, e pelo lastro formado com as discussões empreendidas no âmbito da formação da Política Nacional Antidrogas em vigor desde 2005, e da experiência histórica acumulada pelo Brasil com as iniciativas de Redução de Danos existentes desde a décade de 1980, podemos admitir que seguir a tendência por políticas mais tolerantes para com o cultivo não-comercial apresentada pelos países supracitados não só se apresenta como uma necessidade estratégica, mas está de acordo com as abordagens preocupadas com a saúde e a ordem pública até hoje adotadas.

Inaugurado em 2002, o Growroom é um Coletivo de Redução de Danos que disponibiliza um Fórum na internet onde pessoas adultas, que consomem Cannabis sativa podem trocar informações, dados e outros conteúdos, buscando a resoluções de problemas individuais através do acervo coletivo. O Growroom atua no sentido de promover a redução de riscos, danos e custos sociais e à saúde associados ao mercado de consumo criminalizado da planta, proporcionando às pessoas que usam a planta uma lugar onde possam desenvolver a prática do auto-cuidado e ter contato com formas mais seguras e saudáveis de consumo.

No Brasil é bastante remota a possibilidade da justiça autorizar a formação de Associações de Cultivo não-Comercial nos moldes dos CSC, onde pessoas adultas pudessem desfrutar da comodidade de se associarem e recolherem uma parcela do cultivo coletivo do Clube. No entanto, a proposta do Cannabis Social Clubs continua sendo a ideal para o enfrentamento maduro e realístico do atual mercado consumidor da planta no Brasil e no mundo.

Uma associação do gênero tem como princípios:

Só aceitar como associados pessoas maiores de 18 anos;

Não fazer qualquer tipo de publicidade;

Notificar constantemente a quantidade de plantas cultivadas, e de flores colhidas e distribuidas;

Não realizar qualquer tipo de comércio ou de distribuição gratuita a pessoas não associadas;

Manter um constante diálogo com os órgãos de Saúde Pública.

Campanha contra o Projeto de Lei 252

A Lei Antidrogas 11.343 , em vigor no Brasil desde outubro de 2006, apesar ter trazido alguns avanços continua sendo uma legislação proibicionista em suas intenções, e que desrespeita diversos direitos e princípios constitucionais estabelecidos. Ainda que haja muitos pontos dessa Lei que poderiam ter avançado mais, atualmente estão tramitando na Câmara e no Senado Projetos de Lei que pretendem modificá-la, muitos no intuito de torná-la ainda mais repressora, como é o caso da PL. 252, proposta pelo senador Demostenes Torres.

Esse Projeto de Lei propõe: Alterar a Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, para prever pena de detenção no caso de descumprimento injustificado das medidas educativas aplicáveis ao uso indevido de drogas, bem como para punir mais severamente o plantio destinado a consumo pessoal.

É um absurdo que, apesar de todos os debates que vêm ocorrendo, quer seja no âmbito dos movimentos sociais que lutam pelo direito das pessoas que usam drogas, quer seja ligadas à instituições voltados para pesquisa, prevenção e redução de danos, ou mesmo dentro do movimento estudantil, ainda existam atores políticos que gastem tempo e dinheiro público buscando atuar na ampliação da repressão ao cultivo para consumo próprio, uma prática sabidamente típica de usuário.

A Ananda - Associação Interdisciplinar de Estudo sobre Plantas Cannabaceae repudia a atitude do senador Demostenes Torres, que não apenas ignora a demanda proveniente da Sociedade Civil, mas também desconsidera as discussões de especialistas sobre o tema, que mesmo antes da aprovação da lei 11.343 já tendiam a equiparar as condutas de plantio para consumo próprio à de porte para uso pessoal, e considerar o auto-cultivo como uma eficaz medida de redução de danos.

Para conhecer a PL 252, proposta pelo senador Demostenes Torres: Clique Aqui

Participe da Campanha em Repúdio ao Projeto de Lei 252: CLIQUE AQUI

Ainda que não seja possível formar modelos idênticos ao Cannabis Social Clubs no Brasil, é possível formar espaços de convivência e troca de experiências como o Growroom, ou Associações Redução de Danos que atuem na distribuição de informações sobre a Cannabis sativa e formas mais seguras e saudáveis de utilização. Para saber mais como realizar esse tipo de iniciativa em sua cidade entre em contato com o coordenador da Ananda: Sergio Vidal - sergiociso@yahoo.com.br

Assine a Petição On-line Cannabis Social Clubs - Brasil: Clique Aqui

Leia a proposta da ENCOD para o Cannabis Social Clubs: Clique Aqui

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quarta-feira, 3 de março de 2010

Declaração anarco-comunista sobre a crise econômica mundial e a reunião do G20




1. A crise atual é típica das crises que aparecem regularmente na economia capitalista. A “superprodução”, a especulação e o subseqüente colapso são inerentes ao sistema. (Conforme Alexander Berkman e outros apontaram, o que os economistas capitalistas chamam de superprodução é, na verdade, um problema de baixo consumo: o capitalismo impede que um grande número de pessoas satisfaçam suas necessidades e, por isso, mina seus próprios mercados.)

2. Qualquer solução para a crise dada pelos capitalistas e governos continuará a ser uma solução dentro de capitalismo. Não será uma solução para as classes populares. Na verdade, como em todas as crises, os trabalhadores e os pobres estão pagando – enquanto o capital financeiro está sendo afiançado com enormes somas de dinheiro. É provável que isso continue. Nenhuma transformação dentro do capitalismo pode resolver os problemas das classes populares; menos ainda, tal solução pode ser esperada de individualidades do mundo da política, como Barack Obama. O que esses políticos podem fazer é ajudar a encontrar uma saída para os capitalistas, e talvez, jogar algumas migalhas para a classe trabalhadora.

3. Os auxílios econômicos aos bancos mostram não apenas quais interesses são defendidos pelos Estados, mas também o tão irreal compromisso capitalista com o livre mercado. Ao longo da história, os capitalistas vêm defendendo o mercado quando isso lhes convém, e a regulação estatal e os subsídios quando precisam deles. O capitalismo nunca poderia ter existido sem o apoio do Estado.

4. Nos E.U.A, no Reino Unido e no resto do mundo, os auxílios tomaram a forma de nacionalização das instituições financeiras com problemas – com o apoio total do capital. Isto mostra que os capitalistas não têm qualquer problema fundamental com a propriedade estatal, e que a nacionalização não tem nada a ver com o socialismo. Ela também pode ser um método de oprimir a classe trabalhadora. Nós mesmos, e não o Estado, precisamos assumir o controle da economia.

5. Devido à globalização do capital sob o neoliberalismo, a classe dominante reconhece que a solução deve ser global. O G20 está reunido desde 15 de novembro para discutir a crise. Isto é muito significativo. Os governantes dos E.U.A, da Europa e do Japão compreenderam que eles não podem lidar com a crise sozinhos; precisam, não só de um ao outro, mas de outras potências, notavelmente a China (que está emergindo como uma potencia industrial de primeiro nível, e esta à caminho de se tornar a terceira maior economia mundial). Índia, Brasil e outras economias “emergentes” terão lugares à mesa. Isto indica um reconhecimento – que está em discussão há alguns anos – que o G8, sozinho, não é mais o fator decisivo na economia mundial. Isto marca uma mudança no funcionamento do sistema econômico global.

6. Não temos nenhuma esperança na inclusão de novas potências capitalistas. Governantes da China podem se declarar socialistas; outros, como Lula do Brasil e Motlanthe da África do Sul, podem apresentar-se em momentos como defensores dos pobres. Mas, na verdade, todos são defensores do capitalismo, exploradores e opressores do povo de seus próprios países, e, cada vez mais, imperialistas ou sub-imperialistas exploradores do povo de outros países.

7. Se da crise queremos que saia algo que não seja a derrota completa das classes populares em todo o mundo, mais pobreza, exploração e guerra, as classes populares devem se mobilizar. Temos de exigir auxílios econômicos, não para os capitalistas, mas para nós. Nós anarco-comunistas vamos lutar por aqueles que conseguiram um lar por meio de créditos, sendo auxiliados para poderem manter seus lares. Vamos continuar a apoiar e a participar da luta por empregos com melhores salários e menos horas, habitação, serviços básicos, serviços de saúde, assistência social e educação, proteção do meio ambiente. Lutamos por um fim às guerras imperialistas e à repressão da nossa classe e suas lutas.

8. Apresentamos essas demandas em resposta à reunião do G20, e continuaremos a apresentá-las no futuro. Através de tais demandas, e através da ação direta, nós iremos trabalhar no sentido de construir um movimento global das classes populares que podem colocar um fim ao capitalismo, ao Estado e às crises que eles geram.

Assinado:

Federação Anarquista do Rio de Janeiro (Brasil)Alternative Libertaire (França)Federazione dei Comunisti Anarchici (Italia)Melbourne Anarchist Communist Group (Australia)Zabalaza Anarchist Communist Front (Africa do Sul)Common Cause (Ontario, Canadá) Unión Socialista Libertaria (Perú)Union Communiste Libertaire (Québec, Canadá)Liberty & Solidarity (Reino Unido)Asociación Obrera de Canarias/Ēššer Ămăhlan n Təkanaren (África)Anarchistische Föderation Berlin (Alemanha)

terça-feira, 2 de março de 2010

Contos Folclóricos Brasileiros


A partir de uma recolha feita no sertão da Bahia, numa área que abrange desde o Médio São Francisco (Serra do Ramalho) até a Serra Geral (Brumado), foi organizada uma antologia de contos populares que a Paulus Editora trará à luz em breve.
O trabalho tornou possível a preservação das histórias de minha infância, contadas por D. Luzia (minha avó), como Belisfronte (já vertida para o cordel), Guime e Guimar, Maria Borralheira e A Mentirosa. Os contos de D. Luzia foram relembrados por Valdi Fernandes Farias (meu pai) e Isaulite Fernandes Farias (Tia Lili).

Manifesto Dadaísta





PRIMEIRO MANIFESTO DADÁ

Hugo Ball

Dadá é uma nova tendência da arte. Percebe-se que o é porque, sendo até agora desconhecido, amanhã toda a Zurique vai falar dele. Dadá vem do dicionário. É bestialmente simples. Em francês quer dizer "cavalo de pau" . Em alemão: "Não me chateies, faz favor, adeus, até à próxima!" Em romeno: "Certamente, claro, tem toda a razão, assim é. Sim, senhor, realmente. Já tratamos disso." E assim por diante.
Uma palavra internacional. Apenas uma palavra e uma palavra como movimento. É simplesmente bestial. Ao fazer dela uma tendência da arte, é claro que vamos arranjar complicações. Psicologia Dadá, literatura Dadá, burguesia Dadá e vós, excelentíssimo poeta, que sempre poetastes com palavras, mas nunca a palavra propriamente dita. Guerra mundial Dadá que nunca mais acaba, revolução Dadá que nunca mais começa. Dadá, vós, amigos e Também poetas, queridíssimos Evangelistas. Dadá Tzara, Dadá Huelsenbeck, Dadá m'Dadá, Dadá mhm'Dadá, Dadá Hue, Dadá Tza.
Como conquistar a eterna bemaventurança? Dizendo Dadá. Como ser célebre? Dizendo Dadá. Com nobre gesto e maneiras finas. Até à loucura, até perder a consciência. Como desfazer-nos de tudo o que é enguia e dia-a-dia, de tudo o que é simpático e linfático, de tudo o que é moralizado, animalizado, enfeitado? Dizendo Dadá. Dadá é a alma-do-mundo, Dadá é o Coiso, Dadá é o melhor sabão-de-leite-de-lírio do mundo. Dadá Senhor Rubiner, Dadá Senhor Korrodi, Dadá Senhor Anastasius Lilienstein.
Quer dizer, em alemão: a hospitalidade da Suíça é incomparável, e em estética tudo depende da norma.
Leio versos que não pretendem menos que isto: dispensar a linguagem. Dadá Johann Fuchsgang Goethe. Dadá Stendhal. Dadá Buda, Dalai Lama, Dadá m'Dadá, Dadá m'Dadá, Dadá mhm'Dadá. Tudo depende da ligação e de esta ser um pouco interrompida. Não quero nenhuma palavra que tenha sido descoberta por outrem. Todas as palavras foram descobertas pelos outros. Quero a minha própria asneira, e vogais e consoantes também que lhe correspondam. Se uma vibração mede sete centímetros, quero palavras que meçam precisamente sete centímetros. As palavras do senhor Silva só medem dois centímetros e meio.
Assim podemos ver perfeitamente como surge a linguagem articulada. Pura e simplesmente deixo cair os sons. Surgem palavras, ombros de palavras; pernas, braços, mãos de palavras. Au, oi, u. Não devemos deixar surgir muitas palavras. Um verso é a oportunidade de dispensarmos palavras e linguagem. Essa maldita linguagem à qual se cola a porcaria como à mão do traficante que as moedas gastaram. A palavra, quero-a quando acaba e quando começa.
Cada coisa tem a sua palavra; pois a palavra própria transformou-se em coisa. Porque é que a árvore não há-de chamar-se plupluch e pluplubach depois da chuva? E porque é que raio há-de chamar-se seja o que for? Havemos de pendurar a boca nisso? A palavra, a palavra, a dor precisamente aí, a palavra, meus senhores, é uma questão pública de suprema importância.

Zurique, 14 de Julho de 1916

segunda-feira, 1 de março de 2010

BOLETIM DO CENTRO DE MÍDIA INDEPENDENTE - M1 2010











1) COMBATIVA E REIVINDICATIVA GREVE GERAL NA GRÉCIA
2) CANA-DE-AÇÚCAR: TRABALHO ESCRAVO, DANOS AMBIENTAIS E VIOLÊNCIA
CONTRA INDÍGENAS
3) CHAMADO DO MPL CURITIBA
4) VIOLÊNCIA POLICIAL NO CARNAVAL DE RUA DE GOIÂNIA
5) COMUNICADO: CODEH CONDENA A REPRESSÃO



1) COMBATIVA E REIVINDICATIVA GREVE GERAL NA GRÉCIA

A Grécia amanheceu totalmente paralisada na quarta-feira (24) de
fevereiro por uma greve geral contra as medidas rigorosas adotadas pelo
governo socialista para tirar o país de uma crise financeira e
orçamentária.

Matéria completa:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2010/02/466094.shtml



2) CANA-DE-AÇÚCAR: TRABALHO ESCRAVO, DANOS AMBIENTAIS E VIOLÊNCIA
CONTRA INDÍGENAS

A ONG Repórter Brasil divulgou um relatório sobre a produção de cana
de açúcar no Brasil em 2009. De acordo com o relatório, a situação é
preocupante. Os casos de trabalho escravo, violações de direitos
trabalhistas, agressões ao meio ambiente e invasão de territórios
indígenas são inúmeros. A produção de cana alcançou 612,2 milhões de
toneladas em 2009, uma alta de 7,1% em relação ao ano anterior. Somente
o Estado de São Paulo concentra 57,8% dessa produção. Em Goiás, o
aumento da produção foi de 50% em relação ao ano anterior. De toda essa
produção, 20% já é controlada pelo capital internacional.

Matéria completa:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2010/02/465973.shtml



3) CHAMADO DO MPL CURITIBA

No início de 2009, a prefeitura junto a URBS e empresários do
transporte, em mais uma ação autoritária, covarde e excludente,
aumentaram a tarifa de R$ 1,90 para R$ 2,20. Em momento algum a
população foi consultada, visto que a maioria dos trabalhadores não
teve um reajuste de 17% em seus salários, sendo assim não podendo arcar
com esse custo altíssimo.

Matéria completa:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2010/02/465771.shtml



4) VIOLÊNCIA POLICIAL NO CARNAVAL DE RUA DE GOIÂNIA

Na última sexta-feira, 12/02, os foliões que participavam do carnaval
de rua de Goiânia, na Avenida Araguaia, foram agredidos e alguns
acabaram presos pela Polícia Militar.

Matéria completa:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2010/02/465530.shtml



5) COMUNICADO: CODEH CONDENA A REPRESSÃO

Como foi denunciado no último editorial do CMI sobre Honduras, no
qual dissemos que a imprensa internacional parou de acompanhar os
acontecimentos no país por entender que uma eleição fraudulenta sob
golpe militar resolveria os problemas locais, as agressões e violações
de direitos humanos aumentariam. Na entrevista concedida ao CMI,
Jose Luis Baquedano, da Frente Nacional de Resistência Popular, alertou
que a repressão iria aumentar e que o povo hondurenho em resistência
estaria correndo risco de vida. O próprio Baquedano e seu filho já
receberam diversas chamadas telefônicas ameaçando-os de morte.
Publicamos aqui a tradução do comunicado feito no dia 15 de
fevereiro de 2010 pelo Comitê de Defesa dos Direitos Humanos de
Honduras (CODEH):

Matéria completa:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2010/02/465290.shtml
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