" Ser governado é... Ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legislado, regulamentado, parqueado, endoutrinado, predicado, controlado, calculado, apreciado, censurado, comandado, por seres que não têm nem o título, nem a ciência, nem a virtude (...). Ser governado é ser, a cada operação, a cada transação, a cada movimento, notado, registrado, recenseado, tarifado, selado, medido, cotado, avaliado, patenteado, licenciado, autorizado, rotulado, admoestado, impedido, reformado, reenviado, corrigido. É, sob o pretexto da utilidade pública e em nome do interesse geral, ser submetido à contribuição, utilizado, resgatado, explorado, monopolizado, extorquido, pressionado, mistificado, roubado; e depois, à menor resistência, à primeira palavra de queixa, reprimido, multado, vilipendiado, vexado, acossado, maltratado, espancado, desarmado, garroteado, aprisionado, fuzilado, metralhado, julgado, condenado, deportado, sacrificado, vendido, traído e, no máximo grau, jogado, ridicularizado, ultrajado, desonrado. Eis o governo, eis a justiça, eis a sua moral!

sexta-feira, 12 de março de 2010

Confira: Perfil com Mano Brown e KL Jay!

"Com o discurso desafiador do Racionais e a língua afiada que lhes é tradicional, Mano Brown e KL Jay mostram porque estão entre as figuras mais importantes do rap nacional"


Por Bruno Mateus - Ragga



“Mano Brown e KL Jay vão tocar em BH. Parece que vai rolar uma entrevista”, disse a editora Sabrina. Segundos depois, não pude evitar a imagem de Mano Brown de cara fechada, braços cruzados e bigodinho feito com precisão matemática. E não por acaso. Avesso a entrevistas e exposição, ele, assim como o resto do grupo, foi coberto, na última década, por uma cortina de mistério e curiosidade.

Pedro Paulo Soares Pereira, como o rapper e vocalista Mano Brown foi registrado, e Kleber Geraldo Lelis Simões, o DJ KL Jay, são integrantes do mais respeitado e influente grupo de rap do Brasil, o Racionais MC's, que ainda tem os MCs Edy Rock e Ice Blue na formação. Fundado no final dos anos 1980, o Racionais ficou conhecido em todo o país com o álbum ‘Sobrevivendo no Inferno’, de 1998. Prêmios na MTV e clipes na programação da emissora alavancaram a venda de discos e deram prestígio ao quarteto.


Desde então, muito se fala sobre a postura do grupo, que evita ao máximo estar sob os holofotes da grande mídia. Depois de sete anos sem lançar material inédito – o último foi o álbum duplo ‘Nada como um dia após o outro’, de 2002 –, e há pouco mais de dois sem vir a Belo Horizonte, o Racionais está gravando o próximo CD, ainda sem nome, previsto para o primeiro semestre deste ano. Morador há 34 anos do Capão Redondo, uma das periferias mais violentas do país, o vocalista do Racionais se diz um sobrevivente do inferno, ainda que, segundo o próprio, estejamos vivendo nele. KL Jay mora no Tucuruvi, região norte de São Paulo.

Às 17h de uma terça-feira de costumeiro calor de janeiro, o fotógrafo e eu saímos da redação da Ragga rumo ao aeroporto de Confins. Lá nos encontramos com os DJs e produtores Rodrigo Xeréu e Vítor Sobrinho, e o também DJ Zeu, responsáveis pela vinda da dupla do Racionais a Belo Horizonte. Duas horas e meia depois, Mano Brown e KL Jay, acompanhados do rapper Dom Pixote, pisaram em solo belo-horizontino. KL Jay comprou castanha, amendoim e passas, tudo misturado, como se fosse pipoca, e nos ofereceu. Quando eu ainda tinha alguns amendoins na palma da mão, entramos no carro. Nesse momento, começara uma jornada de quase 12 horas com o vocalista e o DJ do Racionais. Tempo suficiente para falar sobre violência, futebol, educação, cultura e arte e apagar da cabeça a tal imagem do sujeito de cara amarrada, braços cruzados e bigodinho.

Como vocês se conheceram?

Mano Brown: Foi através de um amigo chamado Milton Sales, que virou empresário do grupo. KL Jay estava produzindo uma fita demo. Edy Rock era o cantor. Blue e eu chegamos lá... Essa história é longa... Da primeira vez, eu e Blue, na plateia, vimos KL Jay e Edy Rock se apresentando e a gente já se interessou. A gente não se conhecia e vimos eles [KL Jay e Edy Rock], tocamos e gostamos da figura, do estilo, do som. Até então a gente não se conhecia.

O rap do Racionais tem compromisso com o quê?

MB: Com nós mesmos, nosso coração, nossas verdades. Com a verdade acima de tudo, morou? Compromisso com a verdade e quem acredita em nós.

Ser considerado a voz da periferia o incomoda?

MB: Não me incomoda, mas não sou a voz, sou uma das vozes. Acho que a maior revolução daqui pra frente é todo mundo assumir sua carga de responsabilidade. Essa é a verdadeira revolução daqui pra frente.


Mano Brown já declarou que o verdadeiro público do grupo é o público da periferia. É constrangedor saber que as classes média e alta também consomem a música de vocês?

KL Jay: A música chega para quem quiser ouvir, é igual ao ar, ela vai pelo ar. Não dá para impedir um cara de classe média alta de ouvir a música, gostar e até se identificar e sair cantando.

MB: Constrangedor não é. Mas é curioso, porque você tenta se colocar no lugar do cara, de onde ele vem, o que ele é e o que sente ouvindo aquilo ali. Uma coisa é um cara do nosso meio, da nossa raça, do nosso convívio, e outra é um cara que não tem nada a ver com você. O que será que passa pela mente dele? É curioso.

2010 é um ano importante para a política e o futuro do país. O que vocês estão achando do governo Lula?

MB: Não é perfeito, mas é o melhor que tivemos até hoje. É um governo mais humano.

Passa pela cabeça do grupo, ou de vocês dois, fazer campanha para alguém?


KLJ: Essa fase já foi.
Brown: Apesar de a gente sempre fazer campanha, mesmo involuntariamente. Antes de ser conhecido, a gente já fazia por conta própria, sem ganhar nada, sem reconhecimento nenhum. A gente nunca negou voz nessa parte política.

Algumas pessoas dizem que as letras do Racionais só tratam de violência, periferia, crime. Por outro lado, vocês falam muito sobre fé e esperança.

MB: Claro. Não existe assunto obrigatório, o rap não pode estar preso a um assunto só, nem a dois ou três. O rap tem que falar da vida. Quando a gente fala de periferia, as pessoas se apegam na violência da ideia, mas a gente fala de vida, e não violência, mas é a violência que chama as pessoas.


Voltando do aeroporto, comentam sobre a beleza das garotas de Belo Horizonte e de como a cidade se parece com a periferia de São Paulo na década de 1970.

Como foi apresentar o Yo! Rap na MTV?

KLJ: Foi muito bom, uma época que fortaleceu bastante o rap no Brasil. Tinha muita gente em evidência: 509-E, Sabotage, Xis, SNJ, RZO, Racionais, todo mundo fazendo show, várias festas. O Yo! ia cobrir festas e shows em vários lugares. Eu tinha uma sintonia muito boa com a diretora do programa, então fluiu.

No show de hoje, por exemplo, vocês chegam com tudo já programado?

KLJ: Tudo improvisado. Tem sido assim há tantos anos já, né?
Brown: Desde que o Racionais existe.

O último álbum de inéditas do Racionais foi em 2002 e teve o ao vivo em 2006. Por que esse hiato de sete anos?
MB: Natural, nada calculado nem planejado, foi natural mesmo. O tempo passou rápido.


O motorista dá um cigarro de palha para Mano Brown, que me pede o isqueiro e diz que quer comprar a coleção inteira do Clube da Esquina. “Quero comprar os CDs desses caras aí, quero a coleção inteira.” Logo em seguida, começa a cantar ‘Nada será como antes’, de Milton e Ronaldo Bastos. “Qualquer hora e qualquer direção, sei que nada será como antes, amanhã... Que saudade de tantos amigos, amanhã e depois de amanhã...” (sic)

Você gosta de muita coisa antiga, né?

MB: Ah, as coisas boas de música é “das antiga” né, cara? Coisa nova tem também, as melhores são inspiradas nas coisas velhas, desde o rap até Amy Winehouse.

Vocês têm vontade de morar em outros lugares fora de São Paulo?

MB: Tenho. Gosto de Belo Horizonte, Curitiba e interior do Paraná, por incrível que pareça, eu gosto.
KLJ: Amo São Paulo, sou apaixonado por São Paulo, gosto pra caralho de São Paulo. Puta que pariu! Mas moraria, talvez, em Salvador. Um outro lugar que moraria é Nova York, com certeza por ser parecida com São Paulo, é uma São Paulo melhorada, mas não está nos meus planos. São Paulo é foda. O que mais? Costa do Marfim, na África. Vi umas fotos, mano. Sensacional. Me falaram que o povo lá é receptivo, tranquilão. República Dominicana, iria lindo pra lá.

Pergunto se eles conhecem a Rádio Favela. “Quando estava começando, nós viemos. Jogamos lá no campo, quando [a rádio] era piratinha ainda. Agora tá bom né, mano?”, pergunta Mano Brown, que começa a contar a história de um amigo que deixou cair Super Bonder na calça. Manchou toda. “Ele ficou nervoso demais. É a calça mais nova que ele tem.” Por volta de 20h30, chegamos ao hotel. Meia hora depois, assustadoramente famintos, fomos jantar em uma churrascaria pelas redondezas. Comemos e falamos sobre música. Mano Brown comparava Jorge Ben e Tim Maia e KL Jay não queria conversa. Após estarmos todos satisfeitos, paramos na porta do restaurante para bater papo e fumar um cigarro.

Como você vê a produção do rap no país?

MB: Cada estado tem suas características. Brasília tem uma característica, São Paulo tem outra. Zona Leste de São Paulo tem um estilo, Zona Norte tem outro. São Paulo é grande, é quase um país. Você não tem só um estilo de música, as regiões são distantes umas das outras. Cada uma tem uma influência diferente da outra. Isso não quer dizer que você vai dividir o bagulho e inventar um rótulo.

E quando o rótulo acontece na música do Racionais?

MB: Racionais é antirrótulo. A imprensa cria os rótulos. Ela cria para ter domínio, controle sobre aquilo. A crítica especializada de música cria muito rótulo.

Depois de alguns tragos, fomos para o carro pegar o caminho de volta ao hotel. “Isso aqui tá uma bagunça”, diz o fotógrafo, culpando sua profissão pela desordem do carro. “Tá precisando trocar as buchas da suspensão, hein”, diz KL Jay, tranquilo, após passarmos por um quebra-mola.

Espera-se do rap e do rapper uma postura crítica, rebelde. Você acha que necessariamente tem que se esperar isso?

MB: Quando você faz o que se espera, mata o movimento. Não pode ser previsível. Se o Exército vai invadir um bagulho, ele avisa antes? É igual esperar o Racionais fazer A, B e C, e o Racionais fizer A, B e C, certinho, igual os caras querem. Aí acabou o Racionais, é o caminho mais curto para acabar: um grupo previsível.

O que você curte fazer quando não está trabalhando com música?

MB: Costumo ficar na favela com os caras, trocando uma ideia, curtindo um som. Beber, eu bebo muito pouco, fico mais conversando mesmo. Trabalho pensando e penso trabalhando.

Quando o ‘Sobrevivendo no inferno’ alcançou aquele sucesso imenso e vocês ganharam uma porrada de prêmios na MTV, em 1998, vocês foram receber os prêmios e o seu discurso foi um tanto quanto raivoso. Era um momento para falar muita coisa para muita gente escutar?

MB: Ah, aquele momento era importante, não tem como negar, era o momento. Não para o Racionais, mas até para o Brasil. Muita coisa não se falava num momento daquele. Para nós, era uma final de Copa do Mundo, mano. O Pelé, quando fez o milésimo gol, falou das crianças, é a mesma coisa.



Por volta de 23h, deixamos Brown e KL Jay no hotel. O próximo encontro seria no camarim da boate em que os dois se apresentariam. Nesse ínterim, eu e o fotógrafo sentamos em um café para bater papo. Quando a terça-feira já ficava para trás e a quarta anunciava sua primeira hora, entramos no local, que já estava lotado. Às 2h, Brown e KL Jay chegaram ao camarim, que era invadido pela música da boate. Enquanto KL Jay vidrava os olhos no seu laptop, sentei-me ao lado de Mano Brown para mais uma conversa. Ainda que o barulho atrapalhasse bastante.

Tem muita gente que está aqui por sua causa. É difícil lidar com essa expectativa do público?

MB: Acho que meu foco é o som, a música. Meu compromisso é no coração, meu. Onde estou, estou com o coração .

Você falou que o compromisso da música do Racionais é com a verdade, com o coração.

MB: Com Deus, primeiro.

Qual é o papel da religião na sua vida?

MB: Sou um cara que tenho fé nas boas atitudes, na união, fé em Deus. Acredito que Deus é isso, é união, música bonita, criança sorrindo, uma árvore que está sendo plantada.

Vocês sempre foram muito arredios com a grande mídia [desde que foi lançada, uma revista nacional especializada em música tentou uma entrevista com Brown, que só foi realizada em dezembro do ano passado]. Por que vocês tomaram essa atitude?

MB: Não era interessante na época, não ia somar. Nosso foco era outro. A gente sabia o que queria e não era aquilo, não estava nos nossos planos.

Você quer mudar isso?

MB: Não quero mudar isso não. Só faço o que quero. Só o que for conveniente.Tenho o direito de querer ou não.

Muitos podem achar que é antipatia e até arrogância.

MB: Podem achar, não pega nada, nada pessoal. Sabe uma coisa que dá para colher disso tudo? Dinheiro. Ou orgulho. Quero ter os dois intactos. [risos]

Até que ponto o dinheiro é importante na sua vida?

MB: No mesmo ponto que é importante na sua e na de todo brasileiro: sobrevivência. Dinheiro parado fede, tenho essa filosofia. Não acho que ganhá-lo é errado. Dinheiro parado fede, tem um cheiro estranho.

O que te irrita no mundo da música?

MB: Não tenho nada em mente agora não.

O Santos [Futebol Clube] te tira do sério?

MB: [risos] Já me fizeram essa pergunta.

E a resposta é a mesma?

MB: [o olhar de Brown se perde no camarim] Fiquei disperso de uma hora para outra, por que será? [risos]

O que o Santos representa para você?

MB: Meu primeiro amor. Eu nem sabia beijar e já gostava do Santos. Vou a todos os jogos.

E a Seleção?

MB: Não acompanho muito não. Não me preocupa a seleção, não sei porquê.

Você conhece o Pelé?

MB: Não.

Tem vontade?

MB: Tenho. Pelé botou o Brasil no mapa. Quando o Brasil foi campeão da Copa [de 1958, na Suécia], Brasil, Bolívia e Chile eram a mesma coisa, ninguém conhecia o Brasil.

O que mudou de Pedro Paulo Soares Pereira para Mano Brown?

MB: Pedro é o nome pelo qual meus amigos mais antigos me chamam e Brown é o nome pelo qual me chamam nos últimos 20 anos. Aí perguntam: Mas é o mesmo cara? Não é dupla personalidade não, é uma só. Não é como o Bruce Wayne e o Batman, não é isso não.

Você é saudosista?

MB: Sou saudosista, mas sou futurista também.

Como você se imagina daqui a 10 anos?

MB: Cabelo quase todo branco, um pouco mais preguiçoso, tipo Dorival Caymmi.

O momento esperado se aproximava. Gravador desligado, fim de papo. Após ver um forte show de KL Jay e Mano Brown, acompanhados de Pixote, tudo o que eu queria era pegar um táxi, chegar em casa, tomar uma ducha e cair em sono profundo. No dia seguinte, passei rapidamente pela redação da Ragga e, ao meio-dia, já estava na porta do hotel. Mano Brown e KL Jay desceram quase uma hora depois. Eu, fotógrafa (sim, o profissional atrás da lente mudou, assim como seu gênero) e KL Jay fomos juntos no carro. Se na noite anterior o DJ estava caladão, no trajeto até Confins aconteceu o contrário. Quando falávamos sobre ditadura, revolução e educação, KL Jay começou a disparar:



É difícil falar para um moleque da periferia que existe um caminho a ser trilhado que é bom e que ainda há esperança?

KLJ: É difícil. Você não está lá com ele. Você fala com ele através da música, mas tem o dia a dia, né? Do mesmo jeito que é difícil para um moleque rico que tem os pais ausentes, loucos, drogados e que tem uma mentalidade de igualdade, ver os seus próximos terem ideias preconceituosas e racistas. Vários ricos se drogam e são viciados por não terem esse carinho, esse diálogo. É o amor que vai mudar tudo. Espiritualmente falando, é o amor que muda. Materialmente, é a educação.

O que você tem escutado?

KLJ: Vou falar uma coisa que estou escutando muito: John Coltrane. Sensacional. Ele devia gostar muito de sexo, porque o vejo tocando, a loucura que é ele tocando, é como duas pessoas terem uma puta atração uma pela outra e estarem ali juntas. E outras coisas também: Jay-Z ouço todo dia. Para mim, ele representa o progresso. Quando crescer, quero ser igual a ele.

Tem muita divergência musical no Racionais?

KLJ: Um pouco, você viu ontem [no jantar, quando, numa discussão sobre Jorge Ben Jor e Tim Maia, Mano Brown, apesar de gostar de ambos, disse preferir Jorge.], né? [risos]

[risos] Por isso pergunto.

KLJ: Ele [Brown] tem a opinião dele e eu tenho a minha e nunca vai haver um consenso. Eu amo Jorge Ben Jor do mesmo jeito que amo Tim Maia, não dá para falar quem é melhor, não dá. Quem é o rei do futebol? Pelé, mas tem gente que acha que o Garrincha é melhor. Tudo bem.

Chegamos em Confins. Faltam 45 minutos para o avião decolar. Novo encontro com Mano Brown.

Você já teve medo de ser assassinado, como Malcom X, Martin Luther King, Tupac e Sabotage?

MB: Não tenho essa brisa não, mas é um lance que os que oferecem perigo convivem com isso de alguma forma. Quem carrega o piano, dá a cara pra bater, convive com isso.

Concorda que você seria um alvo?

MB: Se eu andar moscando, vacilando, talvez. Todo cara que põe a mão na ferida sabe o risco que corre. É como assaltar um banco. Você não trabalha sem a possibilidade da morte, não existe isso.

Qual é a sua opinião em relação à legalização das drogas?

MB: Já existem várias drogas legalizadas, as piores já são legalizadas. Faltam duas ou três, as outras todas já são. Tem que haver uma revisão geral, as leis no Brasil parecem muito antigas.

E qual é a responsabilidade do usuário?

MB: A primeira responsabilidade do usuário é com ele mesmo, com a própria saúde, com o tempo. A Bíblia fala que o corpo do Homem é o templo de Deus. A primeira política do usuário é interna, causar uma rebelião interna e ele vai ver que não está bom. Agora, no coletivo, se é que existe campanha antidroga no coletivo, cada usuário usa por um motivo.

Quem é ou o que é o playboy para você?

MB: Você não vai achar um termo. A cultura playboy existe, e pode ser até pobre. Às vezes é um rico, mas que sabe se posicionar no meio de qualquer um e qualquer lugar. Ou pode ser um classe média ou um cara quebrado, mas tem problema com certas pessoas e classes, e aí é uma atitude de playboy porque é seletiva, elitista, segregadora, medrosa. O playboy é que tem essa atitude, a cor dele e quanto ele tem no bolso eu já não sei, entendeu? [risos].

Você já sofreu muito com o preconceito?

MB: Ô, mano, já sofri preconceito de cor.

Dentro da periferia também?

MB: Dentro, pode ser, mas a maioria das vezes sofri fora. Na periferia, os caras que nem eu são a massa, são todo mundo. É uma pátria, um país.

Pausa para um lanche rápido. O voo sai às 15h. São 14h30.

Você é realmente um sobrevivente do inferno?

MB: Sou, mas o inferno está aí, o inferno continua. Tem muitos vivendo no inferno neste exato momento.

Te dá vontade de fazer alguma coisa em relação a isso?


MB: Acho que essas coisas são como acreditar em Deus, são as pequenas coisas. Não é só atrás de um balcão de uma ONG, nem cortando fita, inaugurando evento. São pequenas coisas, pequenos pensamentos, onde você pode eliminar racismo, injustiça.

É possível eliminar o racismo no Brasil?
MB: É cada um tirar de si o racismo. É mais fácil administrar a si mesmo do que o Brasil. A mudança tem que partir de cada um.

O povo está preparado para isso?
MB: Vem se preparando, está chegando.

Você é um cara otimista?

MB: Sou otimista, claro. Pessimismo nunca, suicídio coletivo nunca, tipo Charles Manson.

Que maluco aquele cara, não? Viajou que a esposa [a atriz Sharon Tate] do diretor Roman Polanski estava grávida do filho do Satanás, como no filme ‘O bebê de Rosemary’. Ele orquestrou e mandou que integrantes de sua seita, a Família Manson, fossem à mansão de Polanski matar a modelo, que estava com outras três pessoas que também foram mostas e ainda disse que algumas músicas dos Beatles o haviam influenciado.

MB: O John Lennon era vivo ainda?

Sim. Isso aconteceu em 1969, os Beatles ainda estavam na ativa.

MB: O sonho não tinha acabado ainda.

O sonho nunca vai acabar.

MB: O sonho não acaba, mas o show termina.

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Retirado do Blog http://www.lokodocerrado.com/

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