" Ser governado é... Ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legislado, regulamentado, parqueado, endoutrinado, predicado, controlado, calculado, apreciado, censurado, comandado, por seres que não têm nem o título, nem a ciência, nem a virtude (...). Ser governado é ser, a cada operação, a cada transação, a cada movimento, notado, registrado, recenseado, tarifado, selado, medido, cotado, avaliado, patenteado, licenciado, autorizado, rotulado, admoestado, impedido, reformado, reenviado, corrigido. É, sob o pretexto da utilidade pública e em nome do interesse geral, ser submetido à contribuição, utilizado, resgatado, explorado, monopolizado, extorquido, pressionado, mistificado, roubado; e depois, à menor resistência, à primeira palavra de queixa, reprimido, multado, vilipendiado, vexado, acossado, maltratado, espancado, desarmado, garroteado, aprisionado, fuzilado, metralhado, julgado, condenado, deportado, sacrificado, vendido, traído e, no máximo grau, jogado, ridicularizado, ultrajado, desonrado. Eis o governo, eis a justiça, eis a sua moral!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Tratando o esgoto pela raiz


Publicado em 24 de dezembro de 2010

Simples, barato e ecologicamente correto, sistema utiliza plantas para recuperar efluentes domésticos e não poluir o meioambiente

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Em meio a uma verdadeira “floresta” nos fundos da casa, Salete e Alessandra mostram as plantas que tratam o esgoto da chácara (Foto: Aniele Nascimento/AGP)

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Por: João Rodrigo Maroni

Coletare tratar o esgoto de áreas rurais ou de pequenos municípios mais afastados dosgrandes centros é hoje um dos maiores entraves à universalização do saneamentobásico no Brasil. Só no Paraná, segundo o IBGE, mais da metade das cidades(57,9%) não possui rede de coleta de efluentes. No entanto, existem técnicassimples, relativamente baratas e ecologicamente corretas que ajudam a minimizaro impacto ambiental e reduzir o risco de doenças provocadas pelos dejetoslançados in natura nos rios.

Asestações de tratamento de esgoto (ETEs) por zona de raízes são um exemplodisso. Neste caso, plantas fazem a filtragem do efluente antes de lançá-lo nanatureza. Em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, a Chácara Harmoniaadotou há um ano e meio esse sistema. Na frente da propriedade – que é todaautossustentável – não passa rede coletora. O esgoto, anteriormente jogado emum poço morto, agora vai para uma pequena ETE. “Qualquer um que tenha umterreno pequenininho pode fazer. E você não precisa construir a casa assim,pode adaptar o sistema que já existe”, explica Alessandra Seccon Grando, quemora na chácara com a mãe, Salete Seccon.

Fossas

Nosistema adotado na residência, o efluente passa por duas fossas fechadas, quedecantam a parte sólida e possibilitam sua decomposição. Em seguida, o esgotovai para um tanque impermeabilizado que contém – de baixo para cima – camadasde pedra brita e areia. Em cima dessas camadas são inseridas macrófitas(plantas de áreas alagadas), que trabalham em simbiose com bactérias aeróbicas.Estas, por sua vez, decompõem as partículas orgânicas junto às raízes. Paraisso, utilizam o oxigênio captado do ar pelas próprias plantas. Depois detratada, a água que sobra cai no terreno e infiltra. “Dá para fazer um laguinhocom peixes aqui”, planeja Salete.

“Basicamente,as fezes se transformam em plantas e em um lindo jardim, com bananáceas,juncos, papirus e aguapés”, resume o técnico em meio ambiente Thomás Moutinho,que construiu a ETE da chácara. Adepto da permacultura – ciência que valorizapráticas sustentáveis, inclusive em construções –, ele explica que a obra levouapenas dois dias para ser concluída e custou cerca de R$ 500. A ETE temcapacidade para tratar o esgoto produzido por 4 pessoas/dia. Em um sistemamaior (para 12 casas), construído no interior de São Paulo, o custo foi de R$ 1mil por casa, segundo Moutinho.

Deacordo com a bióloga Tamara Van Kaick, professora adjunta do departamento deQuímica e Biologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), aeficiência das ETEs por zona de raízes depende da combinação de fatores como otipo de planta, a granulometria (tamanho) da brita e da areia e do tipo evolume de esgoto, entre outros. Ainda assim, na média, os resultados são muitobons. “Algumas avaliações identificam uma excelente redução em todos osparâmetros. Alguns, como coliformes fecais, chegam a ter redução de 99%”,destaca.

Alémde não ter problemas com o mau cheiro e incrementar o jardim, a ETEpraticamente não dá manutenção. “O que a gente tem de fazer, às vezes, é tiraro excesso de raízes”, explica Alessandra. Salete, por sua vez, toma algunscuidados prévios. “Água sanitária não pode, então usamos somente sabão. Eu mepreocupo em não colocar nada que vá matar as plantas”, justifica.

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COMOFUNCIONA:

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A ETE por zona de raízes tem umsistema simples, mas eficiente.

*O efluente que sai da residência vai para uma fossa séptica comum,impermeabilizada. Ali, o esgoto bruto decanta por ação da gravidade. Aspartículas mais pesadas vão para o fundo; as leves sobem. Neste estágio, ocorrea decomposição anaeróbica (sem oxigênio) do material orgânico.

* Aindanesta etapa, pode-se acrescentar opcionalmente um tanque com carvão paraabsorver produtos químicos como sabões e água sanitária, que agem comobiocidas, matando as bactérias nas raízes das plantas e comprometendo aeficiência do sistema.

* Nasequência, o efluente entra pela parte mais baixa de um tanque construídonormalmente em ferro e cimento e impermeabilizado. No fundo desse tanque,acrescentam-se camadas de pedra britada – mais grossa no fundo e mais fina emcima. Quanto menor o espaço entre as camadas, mais eficiente será o tratamento.Depois, coloca-se areia, onde as plantas macrófitas são inseridas.

* Aregião onde as raízes avançam torna-se uma área aeróbica. As plantas têmcapacidade de injetar o oxigênio em suas raízes, onde vivem microrganismos –zona conhecida como biofilme –, que decompõem as partículas orgânicas,liberando-as para as plantas.

* Finalmente,pode-se construir um pequeno lago para oxigenação do efluente que sai pelaparte superior do tanque. Este lago pode ser habitado por sapos e até porpequenos peixes.

Fonte: Thomás Moutinho

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Preocupação socioambiental

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AETE do patronato ocupa uma área de 80 m2, entre a mata e a plantação (Foto:Ivonaldo Alexandre/AGP)

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Alémde oferecer apoio a cerca de 600 jovens em situação de risco, o Patronato SantoAntonio, em São José dos Pinhais, também virou um exemplo de responsabilidadeecológica. Como não há rede coletora de esgoto na região, a entidade investiuem uma ETE por zona de raízes. O sistema, que inclui uma cisterna de cimento detrês metros de diâmetro para a decantação prévia do esgoto bruto e um canteirode plantas de mais ou menos 80 m2 para filtragem do efluente oriundo dacisterna, foi inaugurado em maio deste ano e tem capacidade para servir aaproximadamente 700 pessoas.

“Tivemoscomo motivação para essa obra a preocupação com o meio ambiente, algo que opatronato sempre teve, e não simplesmente ficar esperando que isso seja impostopela legislação. É o correto a ser feito”, justifica Euclides Nora, assessor dopatronato. “E a gente sabe que essa água que sai não está poluindo nada maispara a frente, o que é muito positivo”, acrescenta Luiza Deon, administradorada entidade. O patronato ocupa uma vasta área, localizada dentro da bacia doRio Miringuava.

Antesde adotar o sistema, tanto a água da chuva quanto o esgoto iam para fossascomuns, situadas junto às edificações. Agora, a água pluvial é direcionadadiretamente para cavas que ficam no terreno ao fundo do patronato. Já o esgoto,vai para a ETE e, só depois de tratado, é que é lançado nas cavas. “Fizeram umexame na água e deu teor de pureza de 90%”, orgulha-se Euclides. “A nossaintenção agora é fazer uma cisterna para captação de água da chuva”, revelaLuiza, que notou a diminuição do número de pernilongos depois da implantação daETE. Além disso, a única manutenção que precisam fazer é esgotar, de cinco emcinco anos, a cisterna de cimento.

Orientação

Abióloga Tamara Van Kaick explica que, apesar de simples, as estações detratamento por zona de raízes devem ser construídas sob supervisão. “Aorientação técnica é fundamental, porque qualquer alteração no projeto podetrazer problemas e o transbordo do esgoto bruto causa mau cheiro”, argumenta.Segundo Kaick, infelizmente no Brasil ainda há poucos profissionais capacitadosna área. Além disso, é preciso definir também algumas padronizações e estudossobre os materiais e as técnicas empregados na construção das ETEs. Mesmoassim, as vantagens do sistema são grandes. “Ele assimila os nutrientes(fósforo e nitrogênio), que se lançados em excesso nos corpos hídricos tiramoxigênio da água, um dos maiores problemas que os sistemas convencionais nãoconseguem reduzir”, esclarece. Já Thomás Moutinho, aponta a descentralização dotratamento de efluentes como outra vantagem. “Os sistemas convencionais(centralizados) recolhem quantidades imensas de materiais orgânicos e oscarregam a quilômetros para tratá-los. Há um alto custo de construção e demanutenção, além de um elevado gasto energético”, conclui.

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